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quinta-feira, 15 de abril de 2010

A MAGIA DAS PALAVRAS MÁGICAS

Eu não entendia bem. Era muito prá minha cabeça: por que tanta celeuma sobre o orador da turma? A minha confusão aumentou ainda mais quando decidiram pedir uma prévia aos possíveis oradores. Eu me perguntava: prá que tanta coisa, tanto medo, tanto controle se o que orador fará é ir à frente, num dia de festa, prá dizer algo a um auditório desatento e a formandos em vias de despedir-se? Prá mim, ser orador da turma era o cumprimento de uma formalidade, um dizer por dizer, um falar às paredes. Mas se o orador da turma profere discurso tão inócuo quanto eu cria, era muito prá minha cabeça o processo que estávamos vivendo prá ver se me deixavam falar às paredes no dia da formatura. Então surgiu-me a suspeita de que, ainda que nem todos ouçam o que diria, isto tem poder muito grande sobre os que prestam atenção. Poderá ser pequeno frasco com poderoso veneno ou suave aroma reconfortante. Se pode ser veneno ou perfume, o problema se resume nas palavras empregadas. Tudo vai da escolha certa das palavras para o momento certo. Seria julgado se escolhi bem ou mal as palavras. Mais recentemente pensei que estas meditações antigas se aplicavam também a escrever semanalmente esta coluna. Palavras. Proferir ou escrevê-las. Esta é a minha missão. Tenho consciência de que usar palavras transcende ao emitir sons ou grafar com tinta. Não é o concatenar palavras de forma a dar sentido ao que falo. O mundo das palavras é um mundo mágico, que faz aparecer o oculto, cria sensações, ilude, esconde. Magia é a tentativa humana de manipular os deuses. Palavras mexem com os deuses e eles podem não gostar. Palavras tiram os véus que encobrem e trazem à luz o que estava oculto e isto pode não agradar. Palavras revelam, diagnosticam, amaldiçoam e bendizem, fazem revoluções e guerras, celebram acordos, estabelecem a paz. Palavras provocam iras e paixões; amor e ódio; ofendem e acariciam; destroem e constroem. Palavras constroem mundos, realizam sonhos, concretizam a Utopia. Compram votos com oferta de empregos. Palavras entram no coração do ser humano. Palavra, a maior ferramenta que alguém possui, traço indelével da obra criadora de Deus. Não emito sons. Não falo às paredes. Não sou orador porque orador é quem fala bonito, esperando o aplauso e o elogio ao final da fala. Não discurso. Discurso é próprio de palanque, onde a verborragia fácil vende ilusões, qual camelô vendendo ervas medicinais. Gosto da magia. E qual mágico que de sua cartola e fraque tira coisas escondidas, quero também eu tirar da cartola do meu coração inquietações, coisas que muitos não sabem que lá existem. Qual mágico, quero tirar para fora do meu coração, não as pombas brancas, meigas e dóceis, mas a dura realidade de um país onde uma minoria de latifundiários, banqueiros e empresários mata à fome parcela da população, usando para escamotear a realidade palavras mágicas como "justiça social", "reforma agrária" "desenvolvimento", "produtividade" e outras mais. Marcos Inhauser

terça-feira, 6 de abril de 2010

PEDOFILIA E RELIGIÃO

Os recentes casos de pedofilia que vieram a público envolvendo sacerdotes são coisas que vão saindo das catacumbas do silêncio dos que sofreram, exigindo a abertura dos arquivos canônicos dos que se silenciaram. Quando o pedófilo é um religioso, seja ele sacerdote católico, pastor evangélico, pai-de-santo, ou seja lá o que qual título tenha em função de sua função religiosa, a figura do sagrado e o simbólico que se encarnam nestes líderes têm uma forte carga emocional e religiosa, desequilibrando as relações de poder entre estes e seus fiéis. As palavras dos religiosos, no imaginário dos fiéis, estão muito próximas de ser “vox Dei”. Eles falam em nome de Deus e muitos falam e agem como se deuses fossem. Esta aura do sagrado que acompanha a figura do religioso é também compreendida pelo imaginário popular associada à santidade dos atos, palavras e pensamentos. Por conseguinte, quando um religioso faz uma abordagem sensual ou uma investida sexual, há nesta sua ação um poder muito maior que a mesma ação feita por um leigo ou não religioso. A investida clerical tem a capacidade de apresentar-se como algo divino, sagrado, isento de culpa ou pecado. No imaginário de quem sofre a investida, pode ocorrer a idéia que aceder às insinuações ou investidas sexuais de um religioso é forma de agradar a Deus, porque se está agradando a um “servo de Deus”. Assim, o ato hediondo pode revestir-se de sacralidade e o pecado do abuso ser entendido como salvação. Um dado a ser considerado neste contexto é que muitas vezes os religiosos manejam informações passadas em confessionários, aconselhamentos ou sessões. Nos casos mais recentes que se conhece, havia a condição de internos em instituição ou de coralistas. As pessoas procuram religiosos para abrir a eles problemas, dificuldades, traumas, abusos. Elas se expõem a eles no desejo sincero de serem ajudadas, orientadas, ouvidas, entendidas, amadas. Muitas confessam suas fraquezas, tropeços, necessidades, carências. O uso indevido destas informações, especialmente para valer-se delas em uma investida sexual, é algo tão ou mais ignominioso que usar sedativo para entorpecer a vítima. Quando esta investida se dá com crianças ou adolescentes a coisa se torna monstruosa. Se no imaginário de pessoas adultas já há a possibilidade de confundir e misturar a pessoa humana com o sagrado que ela representa, o que não passará na cabeça de crianças que sofrem a investida de um “servo de Deus”? Elas foram ensinadas que os religiosos são pessoas sérias, confiáveis, que exigem certos comportamentos de seus fiéis, como não roubar, não matar, não mentir, honrar pai e mãe. Mas eles nunca ouviram de púlpito que não podiam ser abraçados, tocados ou beijados pelo sacerdote, pastor ou religioso, mesmo porque estes temas são proibidos nos púlpitos e nas classes de catequese ou estudo bíblico. Marcos Inhauser

IGREJA DOS ESCÂNDALOS

Há quem se assuste com recentes episódios escandalosos envolvendo as igrejas. Nestes dias, as acusações de pedofilia contra clérigos católicos, acusações que remontam quase duas décadas e que já obrigou a Igreja Católica a fazer acordos, chegou bem perto do papa. Na Alemanha, Irlanda, Bélgica Estados Unidos e Brasil, pipocaram denúncias e surgiram possíveis vítimas de tais abusos. No entanto, parece-me que muitos há que se esquecem de algumas coisas relacionadas a escândalos e a igreja. Se olharmos para a narrativa evangélica vamos perceber que o ato maior da vida de Cristo se deveu a um escândalo: no círculo mais próximo a Jesus, um seu discípulo roubava e o vendeu por trinta moedas de prata. Mais adiante um pouco, quando a igreja dava seus primeiros passos houve o escândalo de Ananias e Safira, que mentindo, retiveram parte do produto da venda de um imóvel. Um pouco mais adiante, vamos encontrar o escândalo das viúvas dos helenistas que estavam sendo preteridas na distribuição da comida, o que levou a igreja a criar o diaconato. Há ainda o caso do mago Simão, que quis comprar o dom do Espírito para com ele ganhar algum dinheiro, gerando o termo “simonia”, mais tarde usado para os que vendiam ou compravam postos eclesiásticos e por causa disto amealhavam fortunas. Cito estes casos para ficar nos bíblicos. Se fosse percorrer a história da igreja, poderia elencar uma infinidade de escândalos envolvendo clérigos, leigos e a instituição igreja. À luz destes fatos, os recentes escândalos do “apóstolo e a bispa” (sic) flagrados com entrada ilegal de dinheiro nos EUA, as muitas acusações feitas pela Receita e Polícia Federal à maneira como a IURD maneja seus fundos, as rádios “evangélicas piratas”, a compra a peso de ouro de tempo nas televisões, as acusações de desvio moral contra líderes das igrejas, nos colocam em xeque. Por outro lado, estes episódios, tantos os bíblicos como os não registrados nas Escrituras porque mais recentes, mostram que a Igreja, no que pese sua aludida origem divina, é formada de seres humanos e estes são tão falhos como se na igreja não estivessem. Mas o fato de cometerem o que cometem sendo membros das igrejas, não devem ser protegidos nem escondidos, mas devem receber exemplar punição, o que, não tem acontecido. Se a igreja não o faz, perde sua credibilidade e claudica na sua função profética. A Igreja é divino/humana, mas os escândalos são totalmente humanos, mesmo que alguns queiram atribuir tais obras a Satanás.