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quarta-feira, 3 de junho de 2015

INTERNET OU INTRANET?

Acabo de voltar da China onde fiquei por duas semanas. Já havia estado lá outras vezes. Fui acreditando que de lá poderia fazer algumas coisas via internet, tal como bancos, e-mails, ler notícias, ligar via Skype para falar com familiares no Brasil. Eu já sabia das dificuldades que poderia enfrentar, mas, confesso, me surpreendi com as que enfrentei desta vez, muito maiores que da última vez, onde um VPN resolvia as questões de acesso internacional.
Se você quiser usar a internet para acessar sites chinês, trocar mensagens, ler e-mails ou ler notícia chinesas, não há problemas. Nunca fiz isto por causa da barreira do idioma, mas com quem trabalhei mais de perto e me relacionei, dizem que não enfrentam problema algum com a navegação.
Quando tentei acessar sites de notícias brasileiros, ler meus e-mails, ver minha conta bancária, começava o suplício. Tudo que não tivesse terminação ".cn" ficava rodando e rodando e depois dava a mensagem de que se esgotou o tempo de conexão. Tentar acessar o Facebook era impossível. Fazer pesquisas no Google também. A alternativa que mais funcionava era usar o "bing.com".
Quando tentava usar o VPN, às vezes conseguia uma conexão e acessar algo fora da China, tal como notícias ou Skype. Depois de um tempo, a conexão caía e era impossível reconectar. Parece que, quando detectavam o uso do VPN eles bloqueavam a conexão.
Há gente oferecendo VPNs exclusivos para romper as barreiras da internet na China, mas a informação que tenho é que não entregam com regularidade o que prometem. É uma briga de criar novidades e esperar algum tempo para que a porta se feche.
Pesquisando sobre o assunto se descobre que estas restrições começaram depois de uma série de reportagens de jornalismo investigativo que mostraram o dinheiro que dirigentes do Partido tem/tinham em contas fora da China. Os números rodavam em torno de US$ 160 bi e envolviam altas autoridades. Os resultados desta investigação foram vários: um deles foi a barreira imposta ao acesso dos chineses aos sites internacionais de notícias. Outro foi uma onda de prisões de ministros e altas autoridades do partido, com vários sentenciados à morte ou prisão perpétua.
Há quem diga também que há temor das autoridades chinesas com a replicação na China dos movimentos populares havidos no mundo árabe e Egito, onde as redes sociais foram usadas para alavancar apoios e protestos. Impedir o acesso a estas redes sociais que tem suas sedes fora do alcance das autoridades chinesas foi uma das formas. Por não querer se submeter aos ditames desta regulação o Google "brigou" feio e preferiu não ceder e por isto está barrado.
Há estudos e gente da área que tem dito que a China estaria utilizando uma nova técnica, o "grande canhão", para atacar sites. Isto permite colocar sites fora de serviço, usando o conceito da "Great Firewall", o nome dado ao sistema de supervisão e censura da internet de Beijing, segundo relatório do Citizen Lab da Universidade de Toronto.
"O 'grande canhão' não é apenas uma extensão da 'Grande Muralha', mas trata-se de uma técnica de ataque diferente que desvia o tráfego" em direção ou a partir de um endereço IP pessoal, acrescentam os universitários, que foram acompanhados nesta investigação pela Universidade da Califórnia e de Princeton.
Por ele a China coloca fora de funcionamento "sites espelho" que oferecem conteúdo bloqueado pela internet chinesa, como o New York Times.
Os investigadores do Citizen Lab dizem que encontraram "provas irrefutáveis de que o governo utiliza o "grande canhão", algo negado pelo governo chinês. 
Assim, a China tem uma intranet (net interna). Quem quiser internet, vai ter que aprender a driblar muito para poder marcar um gol.
Marcos Inhauser

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