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quarta-feira, 30 de maio de 2018

A FATURA CHEGOU!


A análise do histórico de crédito político indicava que o indivíduo tinha seus problemas e que seria arriscado dar-lhe mais crédito. Seu capital beirava o zero. Mesmo assim o Congresso Nacional deu-lhe um cartão de crédito para, no exercício do poder, gerir a nação.
Ressabiados com o histórico de crédito, o que lhe deram foi um limite baixo, diante do medo de que, empoderado, faria besteiras no uso da confiança presenteada. No dirigir do treminhão público, com as carretas do legislativo, executivo e judiciário, ele foi orientado a dirigir com prudência. No obstáculo da primeira denúncia de má-condução, pisou no acelerador e enfiou o pé na jaca do crédito político.
Comprou votos e pagou por eles, jogando no cartão de crédito político a conta, na esperança de que ela seria diluída ou esquecida. Veio a segunda derrapada e, novamente, fez uso do cartão de crédito político e achou que a fatura não viria.
Para piorar a gestão/condução do treminhão, colocou como assessores de rota a dois motoristas trapalhões, que estavam enrolados nos mapas da investigação. Padilha e Moreira Franco, acharam que entendiam das coisas e, como haviam enrolado as investigações até agora, se consideravam experts em dirigir treminhão sem balanceamento na carga e nos pneus. Outros mecânicos e ajudantes caíram do treminhão no meio do caminho, como foram o Yunes, o Loures, Jucá, Geddel, Henrique Alves, etc.
Quando a coisa ficou feia, pegou um mecânico de beira-de-estrada, troglodita, e o colocou na equipe de negociação da fatura. O Marun. Qual elefante em casa de louças, fez o que sabe fazer: estrago.
Quando o Temer recebeu o aviso de que a fatura do cartão de crédito seria cobrada pelos caminhoneiros, achou que poderia desconsiderar a carta de aviso de que seu nome iria para o SCPC público. Pensou, com a assessoria atrapalhada: tiro de letra!
Ao mesmo tempo, uma outra fatura começava a ser cobrada: o decreto dos portos. A cobrança bateu na porta da casa da filha e ele, qual pai indignado, esbravejou, sem ressonância positiva na opinião pública, que já o tinha como ficha suja no SCPC.
Veio a cobrança dos caminhoneiros. Fatura com juros típicos dos bancos e cartões de crédito. Ela foi aberta à população via jornais, telejornais, redes sociais e o que mais poderia dar ressonância.
Cercado de sua equipe trôpega e enlameada em escândalos, negociou ajoelhado. Cedeu uma e outra vez. Tentou falar grosso e ninguém acreditou no que disse. Foi “tiro de traque”. Na negociação, quiseram fazer o povo pagar a conta, para salvar a rainha dos desmandos públicos e privados: Petrobrás. O lema foi: “Salve-se a empresa mãe das corrupções e dane-se o povo”. Deu no que deu!
Botaram tropas para desobstruir estradas e assegurar que caminhões saíssem, mas uma dezena de piqueteiros se mostrou mais forte que a PRF e as Forças Armadas. Proibiram a saída de caminhões nas barbas das forças de intervenção.
Isto tudo mostrou à saciedade uma coisa: não temos, de fato, um presidente da República!
Marcos Inhauser

quarta-feira, 23 de maio de 2018

CONVENCER E “COM+VENCER”


Estava eu dando um curso para uma empresa. Ali estava a equipe de vendas e eu, não sendo um vendedor, estava mostrando algumas características da comunicação. A certa altura entrei no estudo da etimologia e significado corrente da palavra “convencer”. Dizia eu que a palavra, strictu sensu, significa “com+vencer” ou “vencer com”, implicando, desde o ponto de vista meramente etimológico, duas ou mais pessoas vencendo uma batalha ou uma disputa.
Em seguida mencionei que este sentido, ainda que próprio e afeito à origem da palavra, não era empregado no dia-a-dia. Comecei mostrando que, quando se “convence alguém”, se “vence este alguém”. Se há um vitorioso (o que venceu), há um derrotado (o que foi vencido).
Ampliando o conceito, dizia que o “com+vencimento” é a vitória pela qualidade dos argumentos que se mostraram superiores aos argumentos do outro. O que “convence” cala o oponente por ser mais hábil na argumentação. Se se trabalha com convencimento, o que se tem é gente derrotada à volta. Elas buscarão formas e meios para provar que os argumentos que a derrotaram, eram falhos ou equivocados. Farão de tudo para mostrar isto. Quem “com+vence” cria inimigos.
A esta altura, um dos participantes pediu a palavra e disse que havia feito um curso com o Doutor Bambam, PhD em Comunicação e Semiótica, e que ele havia ensinado que o que se deve fazer é convencer, usando argumentos fortes e irrefutáveis. Era a palavra do Dr. Bamban contra a minha. Se eu tentasse provar que eu não aceitava isto porque acredito errado, estaria tentando convencer o meu interlocutor. Fiquei em uma saia justa. Para sorte minha era horário de almoço e eu disse: voltamos ao assunto quando na parte da tarde.
Saí dali com a cabeça fervendo. Não sabia como sair da enroscada.
Ao voltar do almoço, ainda não sabia como sair do beco sem saída. Nesta hora me lembrei de uma palavra de Jesus: “vos entregarão aos tribunais e às sinagogas; sereis açoitados, e vos farão comparecer à presença de governadores e reis ...  Quando, pois, vos levarem e vos entregarem, não vos preocupeis com o que haveis de dizer, mas o que vos for concedido naquela hora, isso falai; porque não sois vós os que falais, mas o Espírito Santo.” Tirei o texto do contexto e apliquei àquela situação (Deus que me perdoe por este pecado hermenêutico!).
Assim que recomecei eu perguntei ao que me questionava: Você já ouviu a expressão que os 11 jogadores de futebol convenceram o time contra o qual jogaram? O sujeito pensou e meio acabrunhado disse que não. Ninguém no grupo havia ouvido a frase. Perguntei mais: Vocês já ouviram a frase que o time tal venceu, mas não convenceu? Todos haviam ouvido, inclusive o que me questionava. Perguntei o que a frase queria dizer. Houve quase unanimidade (um só silêncio, previsível): quer dizer que ganharam o jogo, mas que a qualidade do futebol apresentado não foi a melhor. Venceram o jogo, mas não convenceram.
Pelo exposto, entendo que há gente que pode ser “com+vencida”, mas não ficar convencida. Daí porque, entendo, antes de se atirar à inglória tarefa de derrotar o outro pela qualidade dos argumentos, deve-se preferir a persuasão (fica para outra oportunidade o tema), que é a arte de seduzir o outro para apoiar o que se propõe.
Espero ter “com+vencido” com meus argumentos e que você esteja concencido da validade deles... Se isto acontecer, serei um sujeito convencido de minhas habilidades...
Marcos Inhauser

quarta-feira, 16 de maio de 2018

PEDRA PESADA


Há uma sentença do profeta Zacarias que se torna atual (se é que algum, dia não o foi). Ela se refere à cidade de Jerusalém e afirma: “ ... farei de Jerusalém uma pedra pesada para todos os povos; todos os que a erguerem se ferirão gravemente; e, contra ela, se ajuntarão todas as nações da terra”.
Nestes dias estamos sendo bombardeados com notícias sobre a transferência da embaixada estadunidense para a Cidade de Jerusalém e toda a celeuma e conflitos que desta decisão foram gerados.
Diferentemente do que muitos cristãos acreditam, Jerusalém não foi uma cidade de Israel nos seus primórdios. Sua história se remonta a mais de 4.000 anos antes de Cristo, tendo sido uma cidade dos jebuseus durante um longo período, de onde, provavelmente seu nome derive, uma vez que o nome pode ter sido derivado de Jebu+salém (talvez significando “a cidade da paz dos jebuseus”). Foi só no primeiro milênio antes de Cristo que a cidade foi tomada pelos israelitas e se transformou na cidade de Davi, passando a ser a capital na nação israelita.
Os dados acima são mais complexos e merecem estudos mais profundos, o que foge ao escopo desta coluna. Basta lembrar que o profeta Melquisedec, dos tempos abraâmicos, era profeta de Salém e que as Cartas de Amarna se referem à cidade e que a tradição diz que ela foi fundada por Shem e Eber, antecessores de Abraão.
Ainda que traga o nome paz na sua designação, ela parece que nunca experimentou períodos significativos de paz. Sempre foi alvo ou centro de disputas e tensões internacionais. Mais recentemente se pode mencionar as Cruzadas que tinham o objetivo de resgatar a cidade das mãos dos muçulmanos e devolvê-la aos cristãos. Ainda mais recentemente a cidade, com a criação do estado de Israel em 1948, passou a ser pomo da discórdia entre judeus e palestinos, cada qual reivindicando-a e usando dados históricos em suas defesas.
A palavra do profeta Zacarias, mais do que nunca se torna atual. Jersusalém é uma pedra pesada para todos os povos. Em torno dela gravitam os mais variados interesses, sejam israelitas, palestinícos, e outras nações (Turquia, Irã, Líbia, Jordânia, Egito, etc.), bem assim as três religiões monoteístas: cristianismo, judaísmo e islamismo. Os imbróglios a ela relacionados passam pela geopolítica, pelos interesses econômicos, pela tradição histórica de vários povos, pela teologia de três religiões. Cada palito que se mexe parece que o mundo vai desabar.
As interpretações ligeiras e nada abalizadas do Apocalipse fazem dela a cidade da restauração, onde o Messias retornará para governar sobre todos. Passaria, pois, a ser o centro da política global. Uma visão pró-Israel defendida e propagada por denominações judaizantes que pretendem se incluir na benção abraâmica por serem abençoadores do abençoado Abraão e da nação abençoada. Na contramão, quem se levanta contra Israel, está sob juízo de Deus.
Nesta linha de raciocínio da teologia fundamentalista, apoiar Israel é fazer a vontade de Deus, não importa o que Israel faça. A matança de mais de 50 pessoas que se manifestavam contra a mudança da embaixada para Jerusalém não deve ser criticada, porque é voltar-se contra o povo de Deus. A nação escolhida e o povo eleito podem fazer o que quiserem porque contarão com a benção.
Não acredito nisto. Se não se pudesse criticar o que os reis de Israel fazem não teriam existido os profetas e dois terços do Antigo Testamento não existiria.
Marcos Inhauser

quarta-feira, 9 de maio de 2018

GERAÇÃO NARCÍSICA


Há duas formas de as pessoas serem notadas na sociedade: pelo conteúdo que tem ou pelo aspecto que tem. As primeiras são vistas, reconhecidas e admiradas pelo que sabem, pelo que pensam, pelas ideias que sustentam, pelas novidades que trazem, pelas contribuições significativas que promovem. Elas têm conteúdo que é produto de estudos, horas de leituras, reflexões, conversas com outras pessoas, avaliações e autoavaliações.

O saber que possuem não é produto de uma empreitada solitária, típica dos autodidatas, mas fruto da interação social onde o aprender e ensinar se tornam a base dos relacionamentos. Porque o saber é fruto das interações sociais, do aprendizado feito com outros e por outros, ela sabe que o que pensa não é exclusividade sua, mas algo construído socialmente. Isto os leva a a serem humildes e a fala não é da arrogância de quem acha que detém a verdade final.

No outro lado, as que tem seu reconhecimento social pelo aspecto que têm, são vistas e reconhecidas pelo look que apresentam. Elea se vestem para serem vistos, fazem penteados exóticos para chamar a atenção, são extravagantes nos gestos, costumam falar alto ou dizer coisas chocantes, pelo simples intuito de que sejam notadas e comentadas. Elas se acham tão lindas que amam olhar-se no espelho, sofrendo da síndrome de Narciso, aquele que amava a própria imagem refletida no espelho d’água.

Neste afã de serem vistas e reconhecidas, não medem consequências. Se pastores, colocam uma placa na frente do local de reuniões com sua foto ocupando a maior parte do espaço. Certa feita estive em um templo que havia um cavalete com um poster do pastor em tamanho real. Não bastava a presença real dele. Tinha que ser visto duas vezes. Há os que precisam de iluminação especial e colocam holofotes centrados no púlpito para que todos vejam a figura “iluminada”.

Proliferou-se na internet os que postam vídeos com “suas mensagens”, onde a cara do buscador de atenção é o que aparece. Querem que os espectadores olhem para eles, mais que prestem a atenção no que dizem.

Há os que fazem tatuagens, as mais variadas e em locais os mais improváveis, para que todos olhem para ele. Nestes dias da catástrofe do edifício em São Paulo, pareceu na TV um que tinha uma frase tatuada na face, logo abaixo do olho direito, como que dizendo: não basta que me olhem, precisam olhar para meus olhos! Assisti, certa feita, a um documentário sobre o tema e nele foi apresentado um homem que se tatuou como se fosse uma onça pintada. A tatuagem cobria todo o seu corpo, até mesmo o genital. E assim se exibia nas ruas e shows. Era a única forma para que fosse visto e notado.

Neste exercício extenuante de buscar a atenção, se proliferou o celular com câmera fotográfica, gerando a explosão das selfies, fotos individuais, postadas diariamente, muitas vezes várias delas, que são postadas nas redes sociais, na esperança de ver a quantidade de curtidas, forma virtual de dizer que gostou. A busca frenética pelos likes é a busca pelo reconhecimento. Like é uma forma de medir quantas pessoal prestaram atenção na pessoa. Pobreza inominável.

A validação social nestes dias é que quantidade de seguidores, de visualizações, de likes que uma pessoa tenha. Num show de esportes apresentaram um cantor que a apresentação foi: ele tem três milhões de seguidores!

O conteúdo cedeu lugar ao continente. Mais vale a aparência que a consistência. Tempos de indigência.

Marcos Inhauser

quarta-feira, 2 de maio de 2018

HAJA PACIÊNCIA!!

HAJA PACIÊNCIA!

O fato ocorreu no Posto de Saúde da Parque da Figueira, no dia 26 último. Ainda que se trate de uma unidade específica, creio que é paradigmático do que ocorre nas demais.
Consciente da necessidade e diante da massiva propaganda, fui ao Posto de Saúde para tomar minha vacina contra a gripe, uma vez que estou incluído na condição de terceira idade. Lá cheguei às 13:30. Para minha surpresa, um cartaz na porta avisava que iriam atender a partir das 14:00 horas. Na frente já haviam outros seis idosos e duas mães com crianças. Havia um certo desconforto pelo fato de o posto de saúde estar fechado para a vacinação e por duas horas.
O pessoal começar a organizar a fila dos que chegavam e havia certo conformismo com a situação, ainda que resmungos se ouviam na fila. Quando deu as 14:00 horas nada de abrir a porta, deu 14:05 nada. Às 14:10 uma pessoa da fila, já mais inquieta e contrariada, foi ver o que estava acontecendo. Voltou dizendo que “havia um monte de gente de branco conversando no corredor e que lhe disseram que estavam arrumando as coisas”. Se ela saiu meio irritada voltou completamente irritada. Às 14:25, como não abriam a porta, uma pessoa bateu forte. Pouco tempo depois ela foi aberta e não havia nenhum funcionário para orientar. O pessoal procurou manter a fila organizada.
Demoraram mais uns cinco minutos sob a alegação de que estavam arrumando as coisas. Quando, finalmente começaram a atender, um senhor que usava um jaleco de Agente de Saúde, se postou à porta e, sem considerar a fila que havia, começou a mandar entrar.
Houve reação e uma funcionária veio dizendo que devíamos nos organizar em fila porque, caso contrário, não seríamos atendidos. Foi retrucada sob a alegação de que a fila existia e quem instituiu a muvuca foram eles.
Havia gente idosa com problema de locomoção que, por administração dos presentes, foram sendo passados na frente. O Agente de Saúde, figura desnecessária na função de porteiro, uma vez que o pessoal, ainda que irritado com a demora, sabia se organizar. Mas estava ele à porta impedindo a entrada de algum “intruso”.
Eu estava intrigado com a demora em atender cada um dos que à frente estavam. Quando chegou a minha vez, constatei que havia uma funcionária para solicitar as carteiras de vacinação e documento de identidade, anotar dados pessoais, carimbar na carteira e, depois disto, a vacinadora fazia seu serviço. Para cada pessoa que era “registrada”, a vacinadora poderia ter vacinado outras três.
Se houvesse, ao menos mais uma para registrar os dados (coisa burocrática e desnecessária, uma vez que, duvido que estes dados tenham algum dia sido consultados, a não ser para saber a quantidade de pessoas vacinadas) a coisa seria no mínimo duas vezes mais rápida.
Sai dali uma vez mais convencido da morosidade, incompetência, desídia do sistema de saúde e do funcionalismo público (ainda que reconheça que há gente trabalhadora, mas, confesso, encontrei poucas para me atender e quando isto aconteceu, fiz questão de registrar neste meu espaço semanal.
Há que se ter paciência enquanto os responsáveis por estes fatos estão mais preocupados com seus holerites e sindicato, fazendo paralisações a torto e direito.
Marcos Inhauser