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terça-feira, 2 de março de 2010

SILÊNCIO CRIMINOSO

A antiga literatura semítica de cunho sapiencial valoriza o silêncio como expressão da sabedoria. Há um verso bíblico diz que “o falar é prata, mas o calar-se é ouro”. Tiago, mais tarde, diz que “quem refreia a sua língua sábio é”. Na história da devoção e da espiritualidade há uma forte ênfase no silêncio e na contemplação. Os mosteiros e conventos se prezavam pela preservação desta atmosfera silenciosa, porque o barulho e as palavras podem distrair. Também, e por diversas vezes, critiquei nosso guia mor pela sua verborragia, afirmando que ele fala demais, e quem fala demais dá bom dia a cavalo. Citar as vezes em que o mesmo fez isto já foi objeto de livros escritos com as pérolas da incontinência verbal do sindicalista mor. Ele seria muito mais sábio e sóbrio se refreasse a língua. Ocorre que, a mesma literatura semítica introduz um aspecto no qual o silêncio não deve prevalecer. Em um texto sacerdotal, se afirma que “quando alguma pessoa pecar, ouvindo uma voz de blasfêmia, de que for testemunha, seja porque viu, ou porque soube, se o não denunciar, então levará a sua iniqüidade.” (Lev 5:1). Segundo este preceito, calar-se diante do pecado, da injustiça, da blasfêmia é ser conivente e copartícipe do pecado. Pois isto ocorreu neste dias com o nosso guru. É de sobejo sabido que este governo tem suas afinidades ideológicas e afetivas com o regime da ilha de Fidel Castro. Lá há dissidentes políticos que são prisioneiros e o são porque nenhuma ditadura aceita a crítica, a oposição consciente e consistente. Liberdade de expressão não é o forte do regime castrista. Um desses prisioneiros fez greve de fome por oitenta dias e morreu no dia em que nosso guia estava chegando à ilha. Houve uma condenação geral por parte de governos e estados. O nosso, bem ao estilo lulista, tergiversou e acabou por condenar a greve de fome como instrumento de pressão política. Que o prisioneiro tenha morrido não é de estranhar. A violência contra a dissidência na ilha é forte e constante, haja visto o que fizeram com a bloqueira Yoani Sanchez e seu esposo. Mas que o presidente tenha se calado diante desta brutalidade foi tão absurdo quanto a desculpa dada por Raúl Castro de que os Estados Unidos eram os responsáveis por esta tragédia. O guru fala quando não deve falar, fala o que não deve falar, mas quando deve falar, fica calado. Este silêncio é criminoso. Marcos Inhauser

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

NÃO LEU E ASSINOU

Parece que o governo do sindicalistamór está se especializando em trapalhadas. Ao longo da história do PT no governo, várias foram as trapalhadas em que se meteram. Mais recentemente vem aos borbotões. Relembro algumas das mais recentes, não em ordem cronológica: a reunião com os presidentes de países amazônicos com o Lula e o Sarkozy; a enrascada com a questão hondurenha; a transformação da Embaixada Brasileira em Tegucigalpa e hotel cinco estrelas para o Zelaya; a delegação à COP15 liderada por uma adepta da motoserra, que se digladiou em público com o Ministro do Meio Ambiente; a declaração pública na presença do Sarkozy de que compraria os jatos Rafale para depois se saber que não havia decisão na licitação, e que a FAB preferia outro jato. Nesta sua capacidade de se enrolar e criar trapalhadas, eis que agora vem o decreto presidencial dos Direitos Humanos que, segundo leitura feita por pessoas isentas e outras nem tanto, por organizações várias da sociedade civil e militar, é um atentado às liberdades constitucionais e ao mesmo Direito que pretende defender. Como exemplo cito os artigos 18 e 19 “Toda pessoa tem direito à liberdade de pensamento, consciência e religião; este direito inclui a liberdade de mudar de religião ou crença e a liberdade de manifestar essa religião ou crença, pelo ensino, pela prática, pelo culto e pela observância, isolada ou coletivamente, em público ou em particular.” e “Toda pessoa tem direito à liberdade de opinião e expressão; este direito inclui a liberdade de, sem interferência, ter opiniões e de procurar, receber e transmitir informações e idéias por quaisquer meios e independentemente de fronteiras.” O texto proposto pelo decreto é um atentado a estes dois direitos, pois quer restringir o uso de símbolos religiosos e “regulamenta” o uso da mídia para fins religiosos e estabelece a censura aos meios de comunicação pelo monitoramente editorial, com a possível suspensão e cassação de licença. Pertencendo a uma tradição religiosa que nasce na luta pela separação entre a Igreja e o Estado, isto me cheira intervenção indevida do Estado em assuntos privados. Já vi este filme nos EUA, onde, em nome da liberdade religiosa, não se pode ter celebrações religiosas nas formaturas, não se pode ir à escola com uma camiseta que tenha mensagem religiosa, é proibido orar em grupo na escola, etc. É a proibição em nome da liberdade, paradoxo maior. Não faz muito tempo li um artigo onde o articulista diz que a liberdade está diminuída pelas legislações que a querem normatizar e que o direito à opinião e a expressá-la, especialmente a religiosa, está sendo destruída pela legislação que a quer defender. Nisto os asseclas do sindicalistamór foram mestres. E o mestre não leu e assinou. Que falta que o hábito da leitura lhe faz e agora ainda mais. Marcos Inhauser

terça-feira, 12 de maio de 2009

SEM PODER FICAR, NEM SAIR

A cana é um dos produtos agrícolas mais fortes da República Dominicana e o governo tem grandes interesses na sua produção. Há algumas décadas, como forma de reduzir o custo da produção via mão-de-obra barata, o governo dominicano fez vista grossa (alguns dizem que estimulou) a vinda de haitianos ilegais para trabalhar na lavoura da cana. Eles vieram e foram formando pequenos povoados, alguns em terras do governo, conhecidos como batéis.
São vilas de extrema pobreza, sem água encanada ou esgoto, onde se vive sob constante tensão pelo medo das investidas policiais. Há alguns anos o governo dominicano decidiu privatizar várias usinas de açúcar e as menos rentáveis foram fechadas e os trabalhadores, na quase totalidade haitianos ilegais, ficaram à mercê da sorte, visto não terem nenhum direito trabalhista.
Não bastasse isto, há outra situação que raia a um drama kafkiano: a constituição dominicana assegura o direito à nacionalidade para aqueles que nascem em seu território, como acontece com quase todos os países. Por manobras interpretativas, este direito tem sido negado a quem nasce em território dominicano e não é filho de pais dominicanos, mesmo quando um deles o é, tal como ocorre com inúmeros casais haitianos.
Com isto, filhos de haitianos nascidos na República Dominicana não podem ter o direito à nacionalidade e lhe é negada a certidão de nascimento. Sem isto, eles não são aceitos nas escolas públicas e, por conseguinte, não podem estudar e aumentam a população miserável de haitianos.
O assunto tomou tal monta que o governo se viu pressionado a revisar esta conduta de negar a cidadania aos que nascem em seu território. Ao invés de rever a norma, por inconstitucional que é, está promovendo uma reforma na Constituição para assegurar que haitianos não possam ter cidadania dominicana. As discussões estavam acaloradas nos dias em lá estive e ainda não havia um veredicto final, mas as coisas se encaminhavam para a vitória governista e o impedimento à cidadania de filhos de não-dominicanos.
Cria-se assim uma situação de horror e surreal: eles não podem ficar em território dominicano porque não são aceitos como tais, mas não podem se mudar para outra parte porque não possuem documentos. É a velha história do “se correr o bicho pega, se ficar o bicho come”.
O que mais me chama a atenção neste episódio é que não vi em nenhum jornal, noticiário ou notícias na internet alguma alusão a este imbróglio. Talvez porque se trate de negros, haitianos, ilegais, pobres, e sem nacionalidade. Não são gente.
Depois querem me vender a idéia de que a mídia noticiosa é imparcial e que busca a justiça.

Marcos Inhauser