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terça-feira, 9 de agosto de 2011

SÍNDROME DE COELET

O nome é estranho, porque transliteração (mal feita) da palavra hebraica para “pregador”. Coelet é o termo técnico para se referir ao escritor/pregador/sábio do livro de Eclesiastes, na Bíblia. Precisar quem era é um problema, mas há consenso de que deva ser Salomão, já velho, depressivo e desesperançado. Ele diz: “É ilusão, é ilusão, diz o Coelet. Tudo é ilusão. A gente gasta a vida trabalhando, se esforçando e afinal que vantagem leva em tudo isso? Pessoas nascem, pessoas morrem, mas o mundo continua sempre o mesmo. O sol continua a nascer, e a se pôr, e volta ao seu lugar para começar tudo outra vez. O vento sopra para o sul, depois para o norte, dá voltas e mais voltas e acaba no mesmo lugar. Todos os rios correm para o mar, porém o mar não fica cheio. A água volta para onde nascem os rios, e tudo começa outra vez. Todas as coisas levam a gente ao cansaço—um cansaço tão grande, que nem dá para contar. Os nossos olhos não se cansam de ver, nem os nossos ouvidos, de ouvir. O que aconteceu antes vai acontecer outra vez. O que foi feito antes será feito novamente. Não há nada de novo neste mundo. Será que existe alguma coisa de que a gente possa dizer: ´Veja! Isto nunca aconteceu no mundo´? Não! Tudo já aconteceu antes, bem antes de nós nascermos.” Lembrei-me dele com esta nova crise nos mercados mundiais. Também lembrei do Friedrich Nietzche, que, até onde entendi o que dele estudei (se é que entendi alguma coisa), tinha uma concepção meio que espiralada do eterno retorno da história, de tal forma que as coisas se repetem, não de forma idêntica, mas semelhante. Confesso que é difícil não ser contaminado pela desesperança e depressão do Coelet, especialmente nestes dias. Escrevi há um mês (“Nem direita, nem esquerda” 13/7) que as diferenças ideológicas, políticas, teológicas, litúrgicas estão se acabando, tudo convergindo para a mesmice. Há uma predominância do senso comum, das platitudes aceitas irrefletidamente, um exorcismo das diferenças, uma demonização do menino que diz que o rei está nu. Um país comunista, a China, é o maior investidor capitalista na economia do império! Não sei se ser diferente, crítico, cético já foi menos penoso que em nossos dias. Mas sei que isto tem um preço alto. Ser profeta e dizer o novo, o diferente, anunciar o castigo e a reconstrução é tarefa fadada à solidão. Que o diga Jeremias! Não dá holofote, mas caverna. À esta nova crise dos mercados não faltarão profeteiros (religiosos e seculares) a denunciar mazelas, pregar tribulação e anunciar salvação. No entanto, temos um problema insolúvel: há que crescer economicamente para dar empregos a milhares que diariamente entram ao mercado de trabalho, sob pena de ter as cidades incendiadas por hordas de jovens desesperançados, tal como acontece hoje em Londres e aconteceu no Egito, Síria, etc. Para que tenham emprego, há que ter gente consumindo o que se produz. Para produzir há que buscar recursos naturais, que arrebenta a natureza e polui as cidades, rios e mares. Há uma população mundial inviável para o tipo de economia que praticamos, que valoriza o lucro e a exploração sem limite. Estamos nos colapsando. Há esperança? Eu creio no Reino de Deus, na irrupção de Deus na história para nos dar um novo céu e nova terra. Mas hoje estou como Abraão (“crendo contra toda esperança”) e como o Coelet (“vaidade das vaidades, tudo é vaidade”, “será que existe alguma coisa de que a gente possa dizer: ´Veja! Isto nunca aconteceu no mundo?´”). É a síndrome do Coelet. Marcos Inhauser

SÍNDROME DE COELET

O nome é estranho, porque transliteração (mal feita) da palavra hebraica para “pregador”. Coelet é o termo técnico para se referir ao escritor/pregador/sábio do livro de Eclesiastes, na Bíblia. Precisar quem era é um problema, mas há consenso de que deva ser Salomão, já velho, depressivo e desesperançado. Ele diz: “É ilusão, é ilusão, diz o Coelet. Tudo é ilusão. A gente gasta a vida trabalhando, se esforçando e afinal que vantagem leva em tudo isso? Pessoas nascem, pessoas morrem, mas o mundo continua sempre o mesmo. O sol continua a nascer, e a se pôr, e volta ao seu lugar para começar tudo outra vez. O vento sopra para o sul, depois para o norte, dá voltas e mais voltas e acaba no mesmo lugar. Todos os rios correm para o mar, porém o mar não fica cheio. A água volta para onde nascem os rios, e tudo começa outra vez. Todas as coisas levam a gente ao cansaço—um cansaço tão grande, que nem dá para contar. Os nossos olhos não se cansam de ver, nem os nossos ouvidos, de ouvir. O que aconteceu antes vai acontecer outra vez. O que foi feito antes será feito novamente. Não há nada de novo neste mundo. Será que existe alguma coisa de que a gente possa dizer: ´Veja! Isto nunca aconteceu no mundo´? Não! Tudo já aconteceu antes, bem antes de nós nascermos.” Lembrei-me dele com esta nova crise nos mercados mundiais. Também lembrei do Friedrich Nietzche, que, até onde entendi o que dele estudei (se é que entendi alguma coisa), tinha uma concepção meio que espiralada do eterno retorno da história, de tal forma que as coisas se repetem, não de forma idêntica, mas semelhante. Confesso que é difícil não ser contaminado pela desesperança e depressão do Coelet, especialmente nestes dias. Escrevi há um mês (“Nem direita, nem esquerda” 13/7) que as diferenças ideológicas, políticas, teológicas, litúrgicas estão se acabando, tudo convergindo para a mesmice. Há uma predominância do senso comum, das platitudes aceitas irrefletidamente, um exorcismo das diferenças, uma demonização do menino que diz que o rei está nu. Um país comunista, a China, é o maior investidor capitalista na economia do império! Não sei se ser diferente, crítico, cético já foi menos penoso que em nossos dias. Mas sei que isto tem um preço alto. Ser profeta e dizer o novo, o diferente, anunciar o castigo e a reconstrução é tarefa fadada à solidão. Que o diga Jeremias! Não dá holofote, mas caverna. À esta nova crise dos mercados não faltarão profeteiros (religiosos e seculares) a denunciar mazelas, pregar tribulação e anunciar salvação. No entanto, temos um problema insolúvel: há que crescer economicamente para dar empregos a milhares que diariamente entram ao mercado de trabalho, sob pena de ter as cidades incendiadas por hordas de jovens desesperançados, tal como acontece hoje em Londres e aconteceu no Egito, Síria, etc. Para que tenham emprego, há que ter gente consumindo o que se produz. Para produzir há que buscar recursos naturais, que arrebenta a natureza e polui as cidades, rios e mares. Há uma população mundial inviável para o tipo de economia que praticamos, que valoriza o lucro e a exploração sem limite. Estamos nos colapsando. Há esperança? Eu creio no Reino de Deus, na irrupção de Deus na história para nos dar um novo céu e nova terra. Mas hoje estou como Abraão (“crendo contra toda esperança”) e como o Coelet (“vaidade das vaidades, tudo é vaidade”, “será que existe alguma coisa de que a gente possa dizer: ´Veja! Isto nunca aconteceu no mundo?´”). É a síndrome do Coelet. Marcos Inhauser

quarta-feira, 29 de abril de 2009

Quero ser criança, sempre

Já tive oportunidade de contar minhas peripécias com meus netos e como aprendi com a história o real robot. Mas, talvez, a mais significativa, tenha sido uma que não diretamente relacionada ao robô. Estávamos em Shanghai em um dia chuvoso e sem muita opção de passeio. Fomos a um shopping com muitos brinquedos para crianças, mas coisas eletrônicas, onde a participação é mínima: você passa a ser o objeto da ação e não senhor dela.

Minha filha viu um cartaz de um show de acrobatas chineses e nos perguntou se queríamos ir ver. Os netos perguntaram o que era isto e ela explicou. Eles se animaram. Ao me perguntar e devolvi a pergunta: mas vamos poder aplaudir com entusiasmo? Ela respondeu afirmativamente.

Lá fomos nós. Sentamos na quarta fila e meus lados, um de cada lado. Começado o espetáculo eu coloquei o menor no meu colo para que pudesse melhor ver (sentou um cabeção à sua frente) e comecei a comentar que era difícil fazer o que o acrobata estava fazendo, que por trás da exibição havia muitas horas de treino. Ao final daquela apresentação, plauadimos com entusiasmo. Em seguida, o neto mais velho também para o meu colo e comecei a dizer “uau” e eles começaram a dizer “awesome” a cada coisa mais atrevida ou difícil. A certa altura estávamos todos de tal forma envolvidos e participando do show, que gritávamos “unbelievable”, “incredible” a cada pouco e os netos aplaudiam em pé. Era uma festa. Era como estivéssemos no palco juntos, fazendo com eles as coisas.

A filha e a esposa tentavam estavam desconfortáveis com nossa euforia.

Olhando para trás, acho que foram dois shows: o dos acrobatas no palco e o nosso na platéia. Saímos em êxtase, como se tivéssemos visto o indizível. Os netos chegaram ao hotel e contaram ao pai tudo o que haviam visto e não o deixaram dormir até bem tarde da noite, tentando reproduzir os saltos e contorcionismo que viram.

Voltando para casa, eles montaram um circo no porão e começaram a praticar saltos, a melhorar a performance. E eu com eles, incentivando e vivendo a criança com eles. No dia do aniversário da avó fizemos uma apresentação de acrobacia (se é que não ofendo os acrobatas chamando assim ao que fizemos).

O Reino é assim: ele nos entusiasma, nos convida a subir ao palco e brincar como crianças. Quando deles participamos queremos contar aos outros a nossa delícia de experiência e evangelizamos pelo entusiasmo e pelo convite a ser crianças como nós. E sendo crianças sempre, nos apropriamos da plenitude do Reino.

terça-feira, 7 de abril de 2009

LEVEI UM BAILE

Ou melhor, mais de um. O primeiro foi quando recebi o pedido dos netos para fazer com eles um "real robot". O segundo baile foi pensar em algo que pudesse fazer e que se parecesse ao que me pediam. Para tanto, vários amigos me ajudaram e me deram idéias. O terceiro foi chegar aqui e começar a fazer a coisa.
Trouxe um monte de coisas, mas o básico eram algumas peças de metal e parafusos que, juntados, serviriam de estrutura para o que iríamos construir. Vim com uma idéia bastante completa e pronta e quis impor isto a eles. E aí entrou o mais completo baile que levei. Eles me mostraram o quanto eu havia perdido a capacidade de imaginar, sonhar, fantasiar, de ser criança. Eles me mostraram que mais importante que o produto pronto e acabado, a coisa bem feita, é a imaginação, o que se sonha ao fazer.
Quando menos esperei a imaginação deles estava a mil e a minha execução trôpega. Eu queria colocar algo em um local definido e eles viajavam e queriam outras coisas em outros lugares. Onde eu via uma haste mecânica, eles viam o braço, a mão, os dedos. Onde eu via um monte de hastes mal montadas, eles viam o real robot, onde eu via algo a ser completado, eles viam mundos.
Acho que é por isto que Jesus ensinou que se não nos tornarmos como crianças, não poderemos entrar no Reino de Deus. Há no Reino algo de sonho, fantasia, utopia, de possibilidade diante da impossibilidade. É um tornar-se criança, um desfrutar das coisas mais simples tirando delas as doçuras que só a fantasia e o sonho conseguem. É querer as coisas simples, as verdades menos complexas (quanto mais complexa mais possibilidade de erro), acreditar nas pessoas, viajar nas possibilidades, crer no impossível. É um contentar-se com um estilo de vida simples, onde o conforto simples e não o luxo é a tônica.
Muitos amigos me escreveram desejando-me sorte na empreitada e outros pedindo fotos da obra. Publicamente quero reconhecer que não consegui fazer um real robot nos moldes que imaginei e que os amigos imaginaram. Tampouco tenho absoluta certeza de que os netos acham que conseguimos. Mas o que valeu foi o tempo que passamos juntos, as coisas que puder ensinar de mecânica, eletricidade, de trabalho em equipe, de planejamento. Se o real robot não saiu como eu queria, a intimidade, a amizade, o amor entre mim e os netos que não tenho oportunidade de conviver porque a distância é enorme só fez aumentar.
Não há real robot mas há, por causa dele, real love and friendship e, importantíssimo, sonhos que queremos se tornem realidade.