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quarta-feira, 6 de fevereiro de 2019

FAZENDO HISTÓRIA


Com certeza você já ouviu ou pronunciou a frase: “estamos realizando um marco histórico”. Pode também ser uma frase assemelhada a esta. Fico estarrecido com a facilidade com que as pessoas acham que o que fazem se tornará fato histórico.
No final do ano um jovem me pressionava para que eu me posicionasse quanto ao então futuro governo do Bolsonaro e a indicação do Moro para o Ministério da Justiça. Eu dizia que não se podia fazer avaliações a priori e que os fatos relacionados à vida política se inserem no campo da história e que estes devem ser avaliados com algum tempo passado. Não se avalia fatos em cima dos atos, mas só o tempo pode dar uma dimensão mais clara da sua importância.
Sem querer atropelar este meu entendimento (que, diga-se de passagem, não é meu, mas o aprendi com outros), quero chamar a atenção para alguns fatos recentes e que poderão e deverão ser objeto de análises futuras porque tem o condão de serem marcos históricos na política brasileira.
Refiro-me à eleição no Senado da República. O Senado sói ser uma casa mais moderada, sem grandes arroubos, mesmo porque formada por gente mais velha e experimentada na vida e na política. Há quem diga que é um poder moderador. No entanto, o que se viu nas duas sessões para a eleição do presidente foi o teatro do horror, com direito a coisas impensadas para a casa senatorial.
A começar pela disputa sobre quem tinha o direito de presidir a sessão. O que estava em jogo eram as pretensões políticas de um raposa da política e com extensa ficha de denúncias de corrupção. Do outro lado, um do baixo clero, sem brilho próprio no tempo em que no Senado está, que, sabe-se lá por que e como, estava candidato, apoiado pelo Ministro da Casa Civil. Havia nesta postulação interesses vários e temo que nem todos republicanos, tal como também se dava com o outro lado da disputa.
A atuação histriônica e infantil da senadora Kátia Abreu é algo digno de nota e que também merecerá avaliação futura, quando os historiadores se debruçarem para avaliar os fatos. Quais os interesses motivaram a ex-ministra do PT a se atirar sofregamente sobre os papeis da presidência?
Neste caldo de fatos inusitados, merecerá também a atenção o papel do ministro do STF, Toffoli, que, mesmo tendo afirmado em seu discurso de início do ano judiciário que deveria ser respeitada a autonomia dos poderes, sem a ingerência de um sobre o outro, profere sentença monocraticamente anulando a decisão plenária do Senado. Qual a motivação que ele tinha em se negar e influir em decisão de outro poder? A história dirá.
Os historiadores também deverão se debruçar sobre a fraude constatada com a presença de votos fora do envelope padrão e com um voto a mais do esperado e regulamentar. Fraude em votação do Senado? Bem, não é a primeira vez e há que se lembrar do problema do painel eletrônico, quando Jader Barbalho e ACM estiveram envolvidos. Quem fez e porque fez, é assunto para historiadores.
Mais estupefaciente foi a decisão do Renan de, iniciada a votação e perceber que seria derrotado, retirou a candidatura porque não queria ter no seu currículo uma derrota acachapante. É o caso do menino dono da bola que, porque não gostou do gol marcado contra a sua equipe, vai embora e leva a bola.
Acho que não preciso esperar para dar meu veredicto (ainda que temerário): há grande chance de termos nos livrado deste câncer da política fisiológica.
Marcos Inhauser

terça-feira, 25 de agosto de 2009

SENADORANTE

Nunca colocaria em um filho este nome: Aloísio. Não gosto. E agora não gosto também de um que tem este nome: o Mercadante. Aliás, este sobrenome me faz pensar em outras coisas e nestes dias, não pude deixar de associá-lo, por rima, a comportamentos.

FRUSTRANTE: havia uma multidão de gente que acreditou nele e nele votou, transformando-o em campeão de votos ao Senado. Parecia ser uma pessoa séria, de convicções, firme, com idéias novas capazes de fazer a diferença em um cenário carcomido pelas velhas oligarquias políticas. Hoje, sem sombra de dúvidas, posso afirmar que há muita gente frustrada com ele.

TROPEÇANTE: no episódio da compra do dossiê e dos aloprados, ele veio com a esfarrapada e petista desculpa de que não sabia de nada. Santa inocência ou astuta esperteza, acreditando na imbecilidade coletiva. Tropeçou feio e nunca mais conseguiu firmar o passo diante da opinião pública.

VACILANTE: Mais recentemente apresentou comportamento e posturas vacilantes, ora apoiando, ora ficando em cima do muro e ora sendo mais assertivo quanto à situação do Sarney e do Senado. Foi difícil saber exatamente qual era a sua posição.

TITUBEANTE: Isto o fez titubear. Ora era isto, ora aquilo. O titubeio maior foi sua renúncia irrevogável e a revogação do irrevogável no dia seguinte. Mesmo com a carta do Lula, virou piada e merecidamente.

CLAUDICANTE: no episódio dos aloprados, do mensalão, e agora na crise do Senado, para mim ao menos, fica evidente de que ele claudicou na ética. Não afirmo por comissão, mas o claudicar pela omissão. Falhou ao não ser voz forte de denúncia como o foram Pedro Simon e Cristóvão, para não citar outros que evito mencionar nomes. A sua ausência foi patética quando do bate boca entre Pedro Simon e Collor, preferindo ficar no gabinete a estar presente em um momento histórico, em que éticos precisavam se manifestar contra “aquelle” que é até hoje, junto com um paulista, o símbolo máximo da corrupção.

MERCADEJANTE: o que está por detrás desta sua atitude? Um pragmatismo maquiavélico, em que o fim Dilma justifica todos os meios? O que há de negociação e negociatas por trás disto tudo? As fantasias correm a mil, haja visto que o Senado se mostrou ser a casa da mãe Joana e um balcão surtido de negócios os mais variados. Ou é a república sindicalista que o leva a tal comportamento? Não afirmo nada. Só pergunto perguntas inevitáveis diante disto tudo.


Marcos Inhauser

terça-feira, 26 de maio de 2009

COMIPÇÃO

Nos últimos meses tive a oportunidade de conversar com algumas pessoas que tem ou tiveram relações estreitas com os corredores do poder, tanto em nível federal, estadual, como municipal. Nas conversas, como é óbvio, não poderia deixar de tocar o tema da corrupção e os casos que vieram à tona, notadamente os relacionados ao Senado e a farra das passagens aéreas.

Nas considerações que ouvi, houve uma unanimidade: o que veio à tona é só a ponta do iceberg, só uma pequena ponta de tudo o que ocorre nos descaminhos do poder. Cheguei à conclusão de que se cobra comipção (neologismo formado de comissão e corrupção) até na compra de palito de dente.

Segundo estes, há muita coisa, como favores prestados a deputados e senadores que traficam influência, viciam licitações para que sejam vencidas por quem “financiou” suas campanhas, aceitam sobrepreços, pagamentos de pilares inexistentes em túneis e pontes, metragens descumpridas em estradas, capa asfáltica 50% menos espessa e largura de estradas mais estreitas do que está no contrato, o que dá ganhos exorbitantes às empreiteiras. Há os “pedágios” mensais em base a um porcentual sobre a arrecadação nos serviços “privatizados”.

Um deles me contou de uma farra financiada há mais de uma década por um empresário que levou de passeio a Mônaco mais de dez deputados e senadores e alugou um iate ao custo de US$ 120.000,00 dólares/dia.

O outro me perguntou se eu acreditava que a farra dos pedágios e o jardineiro fantasma eram os casos mais cabeludos da Câmara de Campinas. Ele me disse que a celeuma em cima da identificação dos carros usados pelo poder municipal é quase nada diante de outras coisas. Ele me pediu que prestasse mais atenção às mudanças nas leis de zoneamento, contratos sem licitação feitos em regime de urgência, custo do aluguel dos carros, a forma como certos “empregados” são pagos por agências de publicidade e locadores de veículos, como forma de camuflar gastos.

Na segunda-feira houve uma manifestação dos donos de postos de gasolina, vendendo o produto sem os impostos para que a população se conscientize do quanto há embutido no preço. Houve onde se vendeu o produto a R$ 1,27. Se remédio genérico paga 37% de imposto, se vacina para animal é isento, se escola paga mais tributo que lotérica, dá um mal estar danado. É um dinheiro que vai pelo ralo, falcatruas de ilustres “otoridades”.

Quando pergunto a estas pessoas se há esperança eles me afirmam que não vêem luz no final do túnel, que a cultura da comipção é arraigada no Brasil, que a população tem um comportamento bovino de passividade. De minha parte, não voto mais em ninguém que tenha mandato. É meu não à reeleição.

terça-feira, 5 de maio de 2009

ATOLADO NO ESGOTO

Recebi uma foto, destas que rodam a internet, que vinha em meio a uma série de outras que mostravam trabalho duro. Entre as muitas, havia uma de um trabalhador em limpeza de esgoto que estava com a boca-de-lobo aberta e tinha enfiado a cabeça no esgoto entupido e transbordante, ficando ajoelhado na parte de fora e assim “atolado” até a cintura para conseguir arrumar a coisa. Quando vi a foto, imediatamente pensei que ela era um retrato das nossas casas legislativas.
Os recentes escândalos da farra das passagens, da casa do Agaciel, do apartamento funcional dados aos filhos do diretor João Carlos Zoghbi, do laranjal que ele tem para camuflar empresas que prestam serviço à casa, da quantidade de diretores que o Senado sustentava, a quantidade de denúncias feitas pelo casal Zoghbi que agora se retira, das denúncias feitas por ex-assessor do Jereissati, vem reforçar que se trata de um esgoto a céu aberto e que deputados e senadores estão como aquele trabalhado da foto: enfiados de cabeça.
Não acredito que a coisa seja nova, haja visto o argumento mais usado pelos parlamentares para explicar suas condutas, qual seja, de que sempre se fez assim, que as coisas não estavam claras, que se entendia deste ou daquele jeito. O que é novo é a imprensa e segmentos da sociedade terem acesso a certos dados, depois de muita pressão e trabalho duro de investigação, e revelarem o que se faz nos corredores e subterrâneos das casas legislativas.
Outro elemento que acho que pesou para a revelação destes fatos é a sede da república sindicalista e dos “cumpanheros” agraciados com cargos na administração federal, de estatais e demais esferas da administração pública. Famintos de uma riqueza fácil e sendo liderados por um chefe que não sabe de nada, atacaram com voracidade, fazendo botins nas licitações, contratos e outros expedientes comissionáveis, que acabou gerando uma luta interna pela partição da parte do bolo que se corta debaixo da mesa. Descontentes e prejudicados se encarregaram de vazar para o público certas práticas da partilha.
Plagiando o guru-mór-sindicalista, nunca na história deste país se soube de tanta corrupção quanto agora. O estado está aparelhado para fazer a sucessora do Lula, ou, caso se agrave sua saúde, emplacar uma mudança constitucional que lhe permita a segunda reeleição.
Espero e sonho que tenhamos uma mobilização nacional, como nunca se viu na história neste país, que, com a coisa até o pescoço, dê um basta nos oligarcas do esgoto.

Marcos Inhauser

Marcos Inhauser