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quarta-feira, 2 de junho de 2021

NYIRAGONGO SALLES

O vulcão Nyiragongo, na República Democrática do Congo, entrou em erupção no dia 22 de maio. Outro, o Murara, que está em área desabitada, também entrou em erupção. A cidade de Goma, que está a mais ou menos 12 km de distância do Nyiragongo, teve lavas vulcânicas que chegaram a 300 metros, pelo que, as autoridades pediram que os habitantes a deixassem. Muitos foram à vizinha Ruanda. Na área próxima à cidade de Goma, se fala em quase dois milhões de habitantes.

Desde 1882, ele entrou em erupção ao menos 34 vezes, e em algumas vezes ficou dois anos em atividade. A recente erupção causou a morte de 32 mortes até o momento e a fuga de dezenas de milhares de habitantes.

Vulcões, em certa medida, são previsíveis quando devidamente monitorados. Microssismógrafos colocados nas encostas e em escala ascendente, mostram, com bastante precisão, a entrada da lava no cone, o que, aliado ao monitoramento da temperatura na boca e no interior dela, dá condições de se prever suas atividades. Alertas com cores são emitidos. Assim foi com o Pichicha, em Quito, quando lá morei.

Da mesma forma se pode prever o surgimento e caminho dos tornados, furacões e tufões. Quando vivíamos em Chicago, em área que é caminho dos tornados, a TV anunciava em notas de rodapé a previsão de tormentas e tornados e mostravam, com certa precisão, o horário que poderia acontecer.

Não são assim os terremotos. Até o momento nada indica certa previsibilidade. O que se sabe é que certas áreas são mais susceptíveis e o máximo a fazer é se prevenir para algo que é imprevisível.

O mesmo raciocínio se pode aplicar à administração pública. Há áreas com previsibilidade sísmica, ainda que não se tenha instrumentos confiáveis para a detecção a priori.  Só dá para correr atrás dos estragos. Penso que um exemplo disto são as fraudes fiscais, no INSS, no ICMS, no IPTU etc. O que se faz é colocar a polícia para correr atrás do prejuízo. Por mais que se criem mecanismos de controle, as atividades sísmicas contornam os obstáculos, abrem fendas, destroem coisas construídas e matam pessoas. Veja o exemplo dos desvios na merenda escolar, nas verbas da saúde, para citar dois exemplos.

Há, no entanto, tal como os vulcões, atividades ruinosas que podem ser monitoradas com sensores. Uma delas é o que está acontecendo com o ministro Salles. Os microssismos evidenciavam que o vulcão ia entrar em erupção. Investigações, denúncias, defesa dos madeireiros, aumento do desmatamento, redução da fiscalização, inativação por falta de recursos econômicos de organismos ambientais, advocacia administrativa.

Deu no que deu. Um delegado da PF que ligou os sensores, mostrou que o vulcão podia explodir. Quem devia tomar providências para minorar a crise dormiu no ponto. Um sismógrafo nos Estados Unidos detectou lavas no carregamento de madeira exportada. O STF mandou investigar, a PGR foi provocada, a denúncia formal foi encaminha à ministra relatora e o vulcão está lançando lavas para fora. E tem lava para todos, até, segundo o COAF, nas contas pessoais e no aumento inexplicável do patrimônio.

Com o vulcão principal também o secundário: a presidência do IBAMA. Sensores indicavam atividades sísmicas e decidiu-se expelir a lava antes que ela rolasse morro abaixo, o que, com o tempo, saberemos se a decisão resolveu o problema.

Vivemos em área sísmica e tem gente dormindo sobre os sensores e se gabando que no seu governo nunca houve vulcão. A sabedoria popular diz que é sábio “dar tempo ao tempo”.

Marcos Inhauser

 

quarta-feira, 7 de junho de 2017

VULCÕES POLÍTICOS


Na Costa Rica há um vulcão, Poas, que está em constante erupção, mas que não chega a derramar lavas para fora. É possível visitar, chegar à borda e ver o lago de coisa incandescente lá no fundo. É um parque turístico e muitos para lá vão. Ocorre que há dias em que a visitação está proibida porque, ainda que não lance lavas, lança pedras de tamanhos variados e quentes, que podem machucar. No caminho até à borda se encontra muitas destas pedras.

Em El Salvador há o lago de Ilopango que, segundo dizem, é um vulcão extinto que se encheu de água e hoje é um lago. O mesmo acontece com o de Mohanda, no Equador, que dá para entrar de carro dentro dele e nadar no lago que ali se formou. Da mesma forma o lago de Cuicocha.

Há vulcões e vulcões. Como brasileiros, ainda que não tenhamos nenhum vulcão ativo, vivemos em meio aos sismos provocados pelas erupções do vulcão político. Este vulcão esteve por muitos anos quieto, acumulando água e se pensava que suas águas eram calmas e que nada aconteceria. Houve, no entanto, um dia em que um sismo mostrou que a coisa poderia mudar de figura. Foi um vídeo gravado por um funcionário do correio relatando um esquema de falcatruas. As águas calmas do fundo do vulcão se movimentaram e houve quem quis garantir que voltariam ao normal em breve, que era marola.

A marola virou onda e as águas esquentaram e jogaram para foram algumas lavas e pedras, que machucaram os que muito perto dele estavam: foi a erupção do mensalão. Saiu pedra de todo lado, água fervente e muitos se queimaram, mas nem todos. Uns mais, outros menos, mas o vulcão fez sua obra de abalo parcial.

Depois de um tempo, tudo parecia que voltaria ao normal. Tal como no Poas. Dava até para visitar e ir fazer turismo à sua borda. De repente, uma lava veio como jato. Sismólogos e vulcanólogos perceberam que a coisa era feia e começaram a monitorar os microssismos, a temperatura interior e viram que a coisa explodiria a qualquer hora. Primeiro foram as explosões dos gerentes da Petrobrás que delataram a temperatura interna das falcatruas. Os menos avisados e os interessados em acalmar o público disseram que era mais fumaça que erupção.

Veio a delação dos executivos. Setenta e sete explosões que lançaram lava a jato para todos os quadrantes. Achava-se que era a erupção do fim-do-mundo. Não era.

Quando avaliaram os estragos destas setenta e sete explosões, tentaram dizer que os danos estavam sob controle, mesmo tendo atingido os pilares da política. Parecia que o vulcão se aquietava. Que nada. Lá veio a erupção (ou devo dizer “corruerupção”) da JBS e J&F. Foi lava prá todo lado, queimando e machucando meio mundo.

Tal o tamanho da erupção que até o presidente e o seu amigo de “extrema confiança”, mais o mineiro até então impoluto, saíram queimadíssimos. Oitenta e tantas pedradas foram arremessadas prá cabeça do Temer na forma de perguntas que a PF lhe enviou.

Mas ontem à noite, com hora marcada e televisionamento, mais uma erupção do vulcão: o julgamento da chapa Dilma-Temer. Ainda não se sabe o tamanho desta erupção, mas gostaria que fosse como os vulcões Kilawea, o Krakatoa, o Popocatépetl que lançam para fora as lavas. No nosso caso, que sejam lançados para fora as sujeiras e os corruptos, que saiam queimados para nunca mais voltar.
Marcos Inhauser