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quarta-feira, 3 de agosto de 2016

A NOBREZA DO ANONIMATO

Transcrevo aqui mais um texto do meu amigo e colega Marcos Kopeska.
Acredito serem poucas as pessoas a viver absolutamente satisfeitos com suas identidades e realizações. Parece que temos a tendência de ambicionar ser o que não somos e vivemos insatisfeitos como nossas conquistas e identidade. Ouvi a respeito de Julio Cesar, um dos maiores estadistas da história que foi flagrado por um assessor em choro copioso ante a estátua de Alexandre Magno. Quando perguntado da razão do choro, respondeu em desconsolo: “Choro porque não sou Alexandre, o Grande, que quando tinha mesma idade que tenho, conquistou seu fabuloso império.” Cabe ressaltar que Alexandre Magno, da Macedônia, foi o general mais vitorioso e de estratégias minuciosamente perfeitas, seguido por Julio Cesar, imperador de Roma que veio quase quatro séculos depois.
Penso que em maior ou menor escala, muitos de nós somos “Julio César”, chorando por não sermos quem  gostaríamos de ser, comparando a idade que temos com as idades que tinham nossos heróis quando dos seus grandes feitos. Acontece que essa cobrança perversa nos impede de descansar naquilo que somos e nos tolhe de sentirmo-nos dignos pelo que somos, no tempo em que chegamos onde chegamos.
Confesso que, em certa ocasião, senti-me desnorteado sabendo que Charles H. Surgeon escreveu seu primeiro tratado de teologia sistemática aos dezesseis anos de idade, enquanto aos dezesseis eu nem ao menos falava em público. Senti-me inútil ao ler que Billy Graham, aos trinta anos, já influenciava o mundo pregando sermões impactantes e sendo conselheiro pessoal do presidente dos EUA, enquanto eu aos trinta, patinava sofregamente no inglês e vivia enfurnado nos meus dilemas de pastor interiorano. Senti-me inadequado quando olhava para quem tinha mais de cem livros publicados, tinha doutorado em teologia, era conferencista, enquanto eu, com quarenta e dois apenas administrava os caprichos de um grupo de líderes nepotistas e confusos da igreja local. Confesso que demorei para fazer a oração de Davi registrada no Saltério: “Senhor, não é soberbo o meu coração, nem altivo o meu olhar; não ando à procura de grandes coisas, nem de coisas maravilhosas demais para mim.” (Sl 131:1). Cheguei à conclusão que o que vale é a relevância e não a importância. Descobri que, por vezes, apenas o existir e cumprir fielmente nossa missão, é o maior legado que podemos construir. Atinei-me de que, em muitas ocasiões, somos “João Ninguém” aos nossos próprios olhos, vivendo na linha mediana da existência, não obstante ao longo da história colocarmos em funcionamento importantes engrenagens que farão parte do agir de Deus no tempo.
No presente não avaliamos os desdobramentos que apenas se revelarão no futuro. Quando penso nisso, logo lembro do discípulo de Damasco, Ananias, instrumento usado por Deus para orar por Saulo de Tarso, quando da sua conversão e batismo do apóstolo. Ananias batizou Saulo e desapareceu da história da igreja, enquanto Saulo se levantou com inegável intrepidez para ser o maior teólogo e missionário da história. Ananias foi uma destas engrenagens da história do cristianismo e o desdobramento foi a evangelização do mundo de então. Ananias não foi importante, mas relevante.

Sendo assim, não sejamos afoitos por holofotes, mas desejemos manifestar a soberania absoluta de Deus na cronologia da vida, mesmo que você nunca venha a saber dos desdobramentos finais. Creia, nenhum anonimato é pobre e desvalido, se Deus é soberano na história. Há nobreza em apenas ser uma destas engrenagens da história quando o desfecho é a glória de Deus. Isso nem sempre é importância, mas sempre será relevância.