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quarta-feira, 5 de outubro de 2016

PERPETUAÇÃO POLÍTICA

Nenhum poder político é natural e inerente. Sempre é concessão via votos, eleições ou, em casos extremos e recrimináveis, via violência do golpe ou pelas “vias constitucionais” (vide exemplo da Venezuela e Bolívia). Nenhum poder político é eterno. Mesmo os mais poderosos imperadores e reis sucumbiram pela morte, deposição ou queda. O exercício do poder democrático é o exercício do diálogo, ao contrário do poder autocrático que é o monólogo de “um-que-tudo-sabe”. Na democracia se busca a maturidade cidadã (ao menos é o que se espera), na autocracia se produz o paternalismo.
Por outro lado, já dizia Maquiavel, que não há posse mais duradoura que a ruína. Quem se torna senhor de uma nação livre e não a destrói, será destruído por ela. O desejo de liberdade não se esquece nunca e ele será o motor para destronar os reis que arruínam a vida do seu povo.
O exercício do poder político se dá sobre um determinado povo e espaço geográfico. Não há controle remoto nesta matéria. Quando os poderosos deixam de cooperar para o bem do seu povo, mesmo que antes o tenham feito, este mesmo povo, anteriormente beneficiado, se levantará contra para recuperar o que lhe foi tirado ou para ampliar o que tem. Quando o povo tem os benefícios e estes se mantêm iguais por um longo período, a insatisfação cresce e o poder político está ameaçado. Eis, assim, o paradoxo: se não dá o que o povo espera, é derrubado. Se dá e se mantém no mesmo nível, o povo se insurge querendo mais.
Como todo poderoso tem o desejo de se tornar eterno no poder e que seu reinado se perpetue na lembrança do povo, precisa ele ser hábil nas concessões e na administração das insatisfações. Ser eterno, eis a questão.
Para que este projeto se realize, precisam conquistar o poder, prometendo ao povo, aos mais necessitados, aquilo que anseiam porque vital para eles: saúde, educação e segurança. Daí porque os discursos de campanha se repetem a cada nova rodada.
Na história recente do Brasil viu-se projetos que esperavam vinte ou mais anos de poder. Se inicialmente produziram alguns benefícios para o povo, enveredam-se por caminhos os mais desastrados possíveis. Assim foi o Sarney com o Plano Cruzado que redundou na hiperinflação (ainda que, dizem as más línguas, ele se eternizou no poder); assim foi com o Collor e sua “caça aos marajás”, que redundou na sua própria caçada e de seu tesoureiro. O FHC com sua ambição produziu o advento da reeleição e, depois de terminar seu mandato, muitos dos seus tinham vergonha de colocá-lo ao lado nas aparições públicas. Assim foi com o PT: do “Fome Zero” para o Mensalão e Petrolão.
Muito se fala que o povo não sabe votar. Isto é verdade em parte. Muitos dos corruptos, dos malandros, dos propineiros não conseguiram se eleger ou se reeleger. Ficaram pelo caminho. Partidos há que encolheram, perdendo votos, prefeituras e representação nas Câmaras Municipais. O PMDB encolheu 12,5% e o PT bateu os 60,9%. Como toda regra tem sua exceção, o PP, todo enrolado com a Lava Jato, manteve-se praticamente igual: -0,1%.
Houve significativa renovação nos quadros políticos, o que dá certa esperança de que gente nova terá novos hábitos e nova forma de fazer política. E assim deve ser, haja visto a alta taxa de abstenção, votos nulos e em branco. Somados, pode-se entender como uma nota Zero para a classe política.

Marcos Inhauser

quarta-feira, 21 de outubro de 2015

CONHECEREIS A VERDADE

Minha coluna sobre a “Controvérsia sobre a verdade”, escrita há três semanas, me rendeu vários e-mails de crítica e pedidos de melhor posicionamento sobre o assunto. Minha impressão é que houve eleitores que confundiram a provocação à reflexão com uma posição teológica pessoal. Terminava minha coluna com este parágrafo: “Quem afirma que Jesus é a verdade e que ele, sendo a verdade, liberta, tem em si, no bojo desta afirmação, questionamentos sérios. Se a verdade é ele, conhecer a ele é ser liberto. Mas qual dos Jesus devemos conhecer? O descrito nos evangelhos sinóticos ou na teologia joanina? Ou o Jesus das pregações paulinas? Ou o Jesus da tradição eclesiástica? O Jesus da leitura teológica, instrumentalizada com aparato crítico e exegese nas línguas originais, ou o Jesus da leitura simplista? Qual deles é a verdade?”
Afirmar que Jesus é a verdade traz questionamentos. Ei-los: se Jesus é a verdade, ele é a verdade sobre qual assunto, evento, afirmação ou relação? Dizer que ele é a verdade no sentido de que é a verdade sobre tudo é negar a essência do ser verdade. Não existe uma verdade única que sirva para todos os assuntos. Toda verdade é relativa a um tema em particular e se Jesus é a verdade, devemos definir sobre qual assunto ele é a verdade. Há uma área específica sobre a qual ele é a verdade e isto não está definido pelos que afirmam dogmaticamente ser ele a verdade. Quando ele fala que é “o caminho, a verdade e a vida” estava afirmando a especificidade deste ser verdade: “ninguém vem ao Pai senão por mim”. No entanto, ao afirmar “conhecereis a verdade e ela vos libertará”, sobre qual tema estava se referindo?
Perceba-se que ele afirma “verdade” e não “verdades”. A singularidade é fundamental. Sobre qualquer assunto há uma verdade. Em tese, não pode haver mais de uma verdade sobre um mesmo assunto. Ocorre que, um mesmo assunto comporta mais de uma verdade, cada qual se referindo a um aspecto específico do assunto, a uma fatia do salame. Exemplifico: a afirmação de que “o Brasil vive uma crise” é uma verdade. “A crise brasileira é política”: também é verdade, mas não é toda a verdade, porque ela também é fiscal, moral, ética, social, etc. Assim, há uma verdade para cada área que se considere.
Se conhecer a verdade liberta, conhecer a Jesus liberta do quê? Muitos afirmarão que ele liberta do pecado, mas concordarão que quem o conhece, continua pecando. Outros dirão que ele liberta da escravidão do pecado, mas a vida diária mostra que ainda somos escravos do pecado, porque há áreas da vida nas quais pecamos e que, por mais esforço que se faça, não conseguimos deixar de pecar. Outros afirmam que ele é a verdade sobre Deus, uma coisa impossível visto ser Deus incognoscível na sua plenitude, sendo, portanto, impossível conhece-lo por uma única afirmação verdadeira. Nós o conhecemos parcialmente por uma somatória de verdades.

Para se ter melhor compreensão deste conceito de verdade que o evangelho de João traz, temos que nos aprofundar na teologia joanina e esquecer textos fora deste universo de pensamento. Buscar respaldo em teologias outras, mesmo que bíblicas (paulina, petrina, jesuânica, apolina, sinótica, etc.) é buscar nas afirmações da Dilma toda a verdade sobre Eduardo Cunha.
Marcos Inhauser