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quarta-feira, 15 de novembro de 2017

LITURGIA

Liturgia é o nome dado desde os tempos apostólicos para o ato de tomar parte de uma solenidade cúltica, pública e corporativa. Tem o sentido original de “serviço público”. Percebe-se aqui três dimensões. A primeira é que é um ato solene, o que implica em algo especial, consciente, feito com a devida reverência. A segunda é que é um ato público, pois dele devem participar todos os que queiram e dele devem tomar conhecimento, nada sendo feito na obscuridade. A terceira é que é um ato que se realiza com a presença de pessoas e não é individual.
No Cristianismo, este culto público e solene é prestado pelo corpo de fieis, também reconhecidos e considerados como sacerdotes, naquilo que se conhece como sacerdócio universal. Todos os participantes são credenciados pois formam a nação sacerdotal (aqui presentes o corporativo e o solene). Sendo assim, a liturgia é o culto feito pelos membros de uma comunidade, que, como igreja, solenemente louvam, oram e intercedem a Deus uns pelos outros.
Ocorre que, nos seminários, no mais das vezes, o que se ensina como liturgia é a prática dos ritos religiosos, combinado com o emprego de símbolos, cerimônias e ornamentos. O ensino da liturgia se preocupa em responder à questão: como se cultua? E o que se faz é ensinar as regras para um culto bem celebrado, segundo as regras e cânones.
Ocorre que, na quase totalidade dos cultos liturgicamente celebrados (e mesmo nos que não obedecem tais regras por não conhecê-las ou por criticá-las), o culto público e corporativo é um culto individual, onde o pastor, sacerdote ou o líder da liturgia, o presta sem o concurso dos presentes. Quando se dá a participação pública é para recitar frases, cantar alguns cânticos ou fazer uma breve oração. É ele quem decide a ordem, quem faz o que, o que vai ser cantado, quem vai orar. Acaba se transformando em ação individual onde um-só-faz-por-todos. Isto sem contar aquele que canta, ora, faz solo, prega, dá a benção e fica à porta para ouvir os elogios. No dizer futebolístico “bate o escanteio e corre para cabecear a bola”.
Neste sentido causou-me estranheza quando, em uma viagem de ônibus, escutei uma senhora no banco de trás, dizendo que o pastor a havia convidado para “dar o culto” no domingo Ela ia cultuar. Eu pensei: e a igreja? Não é para menos que a maioria dos cristãos falam em “assistir” ao culto ou à missa e nunca falam em “participar”. A liturgia acaba sendo o show de um.
Se o culto deve promover e incentivar a intimidade com Deus, no “culto-de-um-só” a intimidade do pastor ou sacerdote é que é promovida. O culto é lugar de encontro das diferenças e deve ser espaço para conhecer o outro que comigo participa, saber da sua fé e experiências. É o lugar para perceber a diferença e para entender e aceitar que não são as diferenças que nos unem no culto, mas a humanidade comum que temos e a nossa necessidade de Deus. Na oração conjunta, onde oro e recebo as orações de outros que, tanto quanto eu, também estão ansiosos. Nisto sou aliviado e curado.
O culto e a missa, por serem celebrações públicas, são espaços para tornar cada um dos participantes visíveis e públicos. Não pode ser espaço para o anonimato, para segregação. É o espaço para tornar pública minha oração individual e privada. Onde é que, nos cultos e missas, o adorador/cultuador tem a chance e oportunidade de orar em voz alta o que lhe vai no coração?

Marcos Inhauser

terça-feira, 13 de novembro de 2012

SHOW DA FÉ


Recebi o seguinte artigo do Rev. Marcos Kopeska Paraizo: “Não consigo entender os reducionismos a partir da terminologia que a “pós modernidade gospel” adotou para “espiritualizar”. Não consigo quando perguntam: “E aí mano! Vai no show do ........ (cantor gospel famoso). O preço do ingresso está salgado, mas é porque que ele está no auge da unção.”   Não entendo alguns pastores: “Está mais fácil para contratar o testemunho do .......(estrela pop que se converteu ao cristianismo) , afinal já ficou muito conhecido e já está em queda. Mas ainda dá arrepios quando o ouvimos.” Ou ainda: “Se garantirmos a venda  de 300 CD´s do cantor ...... ele faz um desconto de 20% no cachê e ainda dá o seu testemunho de conversão e faz apelo.”  
Não há diferença entre o mercado secular do entretenimento e o novo “mercado cristão”. Basta comparar a cultura dos resultados lucrativos do mercado da música secular e veremos a decadência cultural a que nos submetemos. É fato que dos anos noventa para cá não tivemos mais gente como Djavan, Chico Buarque, Gal Costa, Renato Teixeira, etc. Eram poesias que conjugavam melodia, emoções, sentimentos e histórias. Obras dos anos setenta e oitenta que se eternizaram com suas métricas elegantes e suas mensagens inteligentes.
A “anticultura” determinou que as gravadoras deveriam investir em “Tchá tchá tchá”, “Ré te te” ou “Créu, creu, créuuuu...”, para lucrar com a exploração do insaciável apetite por futilidades da grande massa não pensante da nação. Por sua vez, o meio evangélico entrou pelo no pragmatismo, explorando os mais recentes veios da Prosperidade e do Triunfalismo. Não é de hoje que vivemos de manias. Lembro-me que há cerca de vinte anos os cânticos em alta eram os que proclamavam batalha espiritual. Cantava-se em todos os cultos sobre general, marcha, escudo e bandeira. Depois fomos tomados pela mania do “vento” e só se cantava sobre vento do Espírito. Hoje estamos a “era das águas” e não temos um culto de domingo em que não se cante sobre águas, chuva, rios, ondas ... Fomos perdendo a criatividade. Nossa musicalidade é refém das ondas que vêm e que vão sem deixar saudade.
É neste circuito que surgem os mega shows da fé. Mas o que é adoração? O que é unção? O que é fé? O que um adorador como Davi, que compôs lindos salmos sobre os atributos de Deus, pensaria sobre este mercado efervescente e afoito por cifra$? O que Paulo, o apóstolo que tombou sua vida pela expansão do cristianismo, pensaria sobre os conceitos de unção que vão desde tremeliques e histerismos, até quedas e desmaios. O que os mártires pensariam sobre os rasos conceitos de fé desta geração de líderes que prefere entreter bodes a alimentar ovelhas?
A fé não é show de poder ou carismas pessoais, mas o conjunto de convicções que nos faz viver com determinação o evangelho que abraçamos.  Penso no pastor M.Z. (nome preservado por razões de segurança); no meu amigo pastor queniano P.M. que hoje vive no Chifre da África sob constante risco de vida; na missionária Nazareth Divino, hoje morando com Cristo, mas que sofreu espancamentos e apedrejamentos por pregar a salvação em Cristo nos países fechados ao cristianismo; no Paulo Cappelletti pregando dignidade e transformação a prostitutas, ladrões e travestis nos becos da noite paulistana. Estes realmente fazem, em humilde silêncio, o show da abnegação, porque descobriram sim o verdadeiro significado da fé. Anônimos aos homens, aplaudidos nos céus. A este show eu quero assistir. Este show eu aplaudo. É o show da fé.”

segunda-feira, 16 de julho de 2012

ADORAÇÃO


Há tempos venho me preocupando com o empobrecimento da liturgia e culto. O que era algo pensado, elaborado, feito com unidade e sequência lógica, foi, gradativamente, sendo substituído pelo “louvor” (um amontoado de cânticos desconexos na mensagem, escolhidos mais pelo entusiasmo que geram que na mensagem que trazem), a mensagem elaborada, estudada e bem fundamentada foi substituída pelos testemunhos de qualidade duvidável, que produziram o neologismo “tristemunho”.
Unidade litúrgica é algo que se perdeu e se desconhece nos cultos modernos. Teologia é sinônimo de palavrão e a própria liturgia ou é desconhecida ou é rejeitada como sendo algo que restringe a liberdade do Espírito. Os que propugnam que o culto deve ser livre para que se dê o agir do Espírito, não percebem que repetem as mesmas fórmulas domingo após domingo. Confundem excitação com espiritualidade, empolgação com manifestação espiritual.
Parece que se perdeu o conhecimento e o entendimento do culto em Israel, tanto no tabernáculo como templo, onde havia uma família inteira dedicada exclusivamente a isto (a família dos levitas), o culto tinha seus regulamentos (há todo um livro dedicado a este ordenamento, o de Levíticos), os cânticos eram selecionados a dedo e formaram o Saltério. Até a roupa dos sacerdotes tinha seu regulamento!
Falar de liturgia hoje em dia é recuperar a riqueza que se tinha e foi se perdendo. Mostrar a relação entre o culto, a adoração e a cura é algo que, ainda que praticado em muitos templos, não tem sido feito com a devida fundamentação bíblica e teológica. Adoração é uma arte perdida! Muitos dos que se promovem como líderes de adoração não tem a mais mínima noção do que teológica e biblicamente isto significa: curvar-se em homenagem, atribuir valor à divindade. Adoração é falar com Deus e não falar de Deus. Nos cânticos, orações, litanias, confissões falamos a Deus de nossas vidas e vicissitudes. Na mensagem ouvimos a Deus falando e nos dando esperança.
Por que cultuamos? Qual o papel da música e do cântico no culto? Sempre houve instrumentos para ajudar no canto congregacional? A congregação sempre foi permitida a cantar durante os cultos? O que esperamos que aconteça quando as pessoas saem do templo e retornam às suas casas? Pode haver cura durante o culto? Qual o papel dos dons no culto?
Conhecer estes aspectos leva as pessoas a ter melhor clareza na hora de adorar. Perceberão que a adoração não é medida pelo barulho, pelas palmas, pelo volume do som, pela quantidade de lágrimas, pelo brilhantismo dos músicos ou seja lá o que for. A adoração é feita em espírito e em verdade. Ela é uma atitude pessoal de render-se, de inclinar-se diante de Deus, de exaltá-lo, de submeter-se a Ele. Não é tempo de exposição narcísica (tal como se dá em muitos púlpitos que se transformam em palcos de exibicionismo), mas de contrição e humildade.

Marcos Inhauser