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quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

A CERTEZA DEIFICADA



Temos horror à incertezas! A dúvida nos corroe e nos mata. A pergunta sem resposta atemoriza e nos traz desconforto. O silêncio do outro nos deixa intranquilos.
Precisamos de certezas, de diagnósticos, de verdades, de respostas de soluções. Quanto mais inseguros somos, quanto menos resolvidos formos, mais medo teremos da dúvida, mais nos agarraremos a qualquer certeza que se nos apresente, fazendo-o a acriticamente. Uma pergunta que possa trazer alguma dúvida é vista como arma do inimigo para roubar a paz que a certeza dá.
Os mais imaturos se apegam a "verdades" proferidas por alguém e se apegam a elas com fervor proporcional ao brilho que o "iluminado" tem.
Com estas considerações tenho pensado na religião como o esforço coletivo para a preservação de certas verdades que dão resposta e segurança aos imaturos. Toda religião que se preze tem uma confissão de fé ou um credo, conjunto das certezas adotadas e defendidas com as armas da rotulagem de herege, apóstata a quem ousa pensar diferente. Estes, no mais das vezes, são expulsos e anatematizados. Estes recursos garantem a preservação da "sã doutrina" e das certezas adotadas.
Percebe-se assim porque pregadores, pastores sacerdotes são como papagaios que repetem frases conhecidas. A função deles não pode ser a do propor o novo, mas repetir ad nauseam o velho, o sabido, o que dá a paz das certezas. Por isto eles não são treinados na arte de perguntar, mas adestrados na tolice de ter respostas para tudo. Como animais pavlovianos são agraciados a cada resposta que dão, sejam elas fundamentadas ou não. As questões mais cruciais recebem rótulos pomposos de "obra de Satanás", possessão, vontade de Deus, castigo de Deus, está colhendo o que plantou, etc.
Sob está perspectiva a religião é a divinização das respostas, a deificação das certezas, a glorificação do não-pensar, a imbecilização do eterno repetir, a demonização do perguntar, a heresia do questionar, o descarte da incoerência, o assassinato da lógica.
Pensar e perguntar não fazem parte destas espiritualidades. Ouvir, dia após dia, as mesmas argumentações, o mesmo raciocínio, as mesmas coisas é ser espiritual. Perguntar e questionar são sinais de " carnalidade". Repetir abobrinhas é santidade. Odiar quem pergunta é ação louvável. Matar infieis é jihad, guerra santa. Ser xiita, sunita, fundamentalista, conservador, ortodoxo é garantia de salvação e galardão no paraíso.
Assim, as religiões nunca foram e não podem ser democráticas. Elas não podem abrir a discussão sob pena de perder o controle. Elas exigem um "sábio que tudo sabe" e uma horda de concordantes. Transformam na congregação da violência simbólica, onde a ignorância é elogiada, a verdade monocromática estabelecida, a participação comunitária na construção do conhecimento e das certezas evitada e condenada.
Tem-se um universo de formigueiro: uma rainha desfrutando de um exército de fiéis operários.

Marcos Inhauser