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quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

PÁTRIA EDUCADORA


Já mencionei aqui, mais de uma vez, a minha admiração por dois irmãos nicaraguenses, poetas e cantores, os Mejía Godoy. Dia destes estava ouvindo pela enésima vez suas músicas. Deparei-me, outra vez, com a de Terencio Acahualinca, onde ele conta a estória desta pessoa que, sendo perguntado por um burocrata sobre sua formação educacional, se saiu com este verso, aqui livremente traduzido:

Não sou leigo, nem estudado em alguma ciência,

Mas já estou pós graduado pela experiência.

Um curso de alta miséria me fez doutor.

Sou graduado em pobreza,

Mestre em desnutrição.

Que me perdoem todos os amigos

Que estão na rançosa burocracia

Com seus diplomas conseguidos em Bretanha ou gringolândia,

Ninguém pode ostentar este recorde

E esta é a pura verdade

Porque assim canta Terencio com tremenda realidade:

Não sou leigo, nem estudado em alguma ciência,

Mas já estou pós graduado pela experiência.

Um curso de alta miséria me fez doutor.

Sou graduado em pobreza,

Mestre em desnutrição.


Fosse Terencio Acahualinca brasileiro, pouca ou nenhuma mudança precisaria fazer na letra para adequá-la à sua realidade. Muito ao contrário talvez pudesse acrescentar algo como

Fiz um elementar básico,

Secundário meia boca

Sonhei com a riqueza,

Adotei a esperteza,

 tomei o caminho mais curto:

Virei político!

Graduei-me em ética pelo noticiário

Mestrado em mentira vendo declarações de senadores e deputados,

Doutorado em cinismo acompanhando CPIs.

Aluno de Calheiros, Cunha, Sarney, Delcídio e do PT

Fiz especializações no PMDB, PSDB e antigo Pefelê.

Nas artimanhas do submundo sou touro,

mas ando morrendo de medo do Moro.

Acertei a mão e ganhei uma bolada,

Mas, pelo visto, lá se vai ela com a delação premiada.

Queria entrar para história como notícia,

mas acabei nas páginas da polícia.

A cela me deu rugas

E no medo do que pudesse contar, me ofereceram fugas.

Bendito gravador:

lá se foi um senador!

Por causa do cartel:

Está se implodindo o bordel!



Marcos Inhauser


quarta-feira, 19 de agosto de 2015

A COBIÇA DO PODER

Há no imaginário popular a ideia de um grande juízo no fim dos tempos, quando todos deverão responder pelos seus atos, toda a verdade se estabelecerá e a justiça prevalecerá. Nesta corrente vem o ditado popular: “a justiça dos homens falha, mas a de Deus prevalecerá”.
Este conteúdo escatológico que se dá à plenificação da justiça se deve ao fato de que, como humanos, cometemos injustiças e ao assim proceder, atentamos para a concretude da paz, porque não há paz sem justiça.
Na análise do comportamento humano (e isto já foi feito uma infinidade de vezes), há os que reduzem as mazelas comportamentais e a causa das injustiças, atribuindo à cobiça, por entender ser ela a causa mater de todos os pecados. Ela está elencada no Decálogo Mosaico e pode-se resumir nela todos os demais pecados. A cobiça do poder, a cobiça da mulher alheia, a cobiça dos bens alheios.
O relato da criação e queda do ser humano relatado pela Bíblia coloca o pecado primeiro na categoria da cobiça de poder: seriam iguais a Deus. O projeto de se tornarem mais do que eram os levou a tropeçar e perder o paraíso.
No mundo moderno a cobiça pelo poder ainda vige livremente. Os super-heróis das revistas em quadrinhos e mais modernamente dos filmes de ação, são pessoas dotadas de poderes ilimitados para combater os que querem assumir o poder sobre todos. Poder foi o que satanás ofereceu a Jesus durante a tentação.
Nesta tentação caíram muitos. Desde a antiguidade até os dias modernos há uma sucessão de pessoas que quiseram ser ultra-poderosos: os Faraós, os reis persas, babilônicos, Salomão, Alexandre, Napoleão, Hitler, os Bush (pai e filho). Temos hoje o norte-coreano Kim Jong-Un que não pensa duas vezes para eliminar quem não se conforma totalmente aos seus desejos totalitários.
Há partidos que cobiçam o poder e estabelecem planos para ficar X anos no poder. Lá chegando, aumentam o sonho e se locupletam para que a permanência possa ser indefinida. Fazem esquemas, montam lavanderias, compram fidelidades para assegurar a reeleição, compram o silêncio dos cúmplices, contratam advogados a peso de ouro, compram a maioria no congresso, buscam a própria estabilidade econômico-financeira.
Nesta cobiça do poder e da perpetuação nele, não se envergonham de fazer coisas condenáveis e, quando flagrados, saem com a cara-de-pau afirmando que sempre se fez assim, que não são os únicos, que a PF deveria se preocupar com questões mais importantes. Para a mídia, fazem declarações de inocência absoluta. Mesmo diante de extratos bancários comprobatórios, negam, de pés juntos, que o dinheiro que está na conta em seu nome e que tem a sua assinatura, não é dele e nem a conta lhe pertence.
Por ser o poder algo tão tentador e aderente, se assemelha a uma tatuagem: marca e se remove só parcial e cirurgicamente. Daí porque, na história da humanidade, as renúncias são mínimas e aconteceram em situações limítrofes: saúde abalada ou credibilidade zero, que gera um desgoverno.
Estamos em uma situação quase-limítrofe: pode piorar ainda mais. Os que propugnam a renúncia o fazem por candura, sem a concreta esperança de que ela se dê. O Nixon renunciou porque não tinha alternativas. O Collor tentou renunciar diante da iminência da cassação. O Blatter fez uma renúncia branca. Tem gente que prefere morrer a renunciar: Vargas e Allende.
A eleição é tão constitucional quanto a renúncia ou o impeachment. O que não é constitucional é o uso da mentira para se eleger ou reeleger.

Marcos Inhauser