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quarta-feira, 21 de outubro de 2020

O JUDICIÁRIO TISNADO

Estou estarrecido e indignado, e como eu, acredito, há muitos outros brasileiros. Tivemos nos últimos dias alguns eventos que marcaram de forma indelével o judiciário brasileiro.

De um lado, a aposentadoria do Decano da Corte, ministro Celso de Melo, quem, por 32 anos atuou no STF, onde, por sua seriedade e competência ganhou a credibilidade indispensável a quem o cargo ocupa. Conhecido por suas decisões solidamente embasadas, fruto de muita dedicação e estudo, seus votos eram irretocáveis. Avesso ao estrelismo, pouco se via dando entrevista extemporâneas. Limitava-se aos autos e falava pela sentença prolatada.

Em ato de profundo desrespeito a este que tanto contribuiu, o governo indicou, antes mesmo de sua jubilação, o seu sucessor. Caso raríssimo e, talvez, único na história judicial mundo afora. E para ser ainda mais indelicado, indica para sucedê-lo alguém com postura garantista, contrária ao posicionamento justo e equânime do jubilante. A ideia que fica é que o queriam ver pelas costas o quanto antes, porque seus votos não agradavam os áulicos de plantão.

Este evento momentoso da jubilação de quem deu a sua vida ao Judiciário, teve a translucidez tisnada pelo nome indicado para sucedê-lo. Adepto do currículo pavoneado de um outro quase ministro, inchou o seu com cursos breves como se Mestrado, Doutorado e Pós-Doutorado fossem. Se a constituição requer do indicado ao cargo notório saber e reputação ilibada, o indicado tem sua reputação tisnada pelos cursos listados. De tal celeuma ele tenta se safar dizendo que foi erro de tradução, resposta muito próxima da que deputados, senadores e outras autoridades dão quando são questionados e dizem que foram mal interpretados.

Para completar a barafunda instalada, tem-se o habeas corpus concedido pelo novo Decano, o ministro Marco Aurélio, aliviando a barra de um condenado duplamente, em segunda instância, com penas que, somadas, chegam aos 25 anos. Questionado, valeu-se de retórica e hermenêutica enviesada e saiu-se que ele não olha capa de processo, mas conteúdo. Duvido que leu o conteúdo. Se leu e deu o habeas corpus, o fato é grave porque deve explicar por que, mesmo sabendo da dupla condenação e do risco de sua libertação, decidiu monocraticamente ou sequer solicitou informação ao juízo que emitiu a sentença de prisão preventiva. Se não leu o conteúdo, deu sentença temerária, passível de admoestação, que é o que o Presidente do STF, ministro Fux, indiretamente fez.

Sabe-se que há duas correntes no STF: os garantistas (Mendes, Levandowski e Toffoli) e a outra ala chamada de punitivista. De minha vontade gostaria que todos fossem justicialistas, no sentido de que, lendo o texto do processo, o contexto dos fatos anteriores e a situação presente no momento da sentença, se buscasse a justiça.

Para a minha cabeça, é muita coincidência que casos escabrosos caiam quase sempre nas mãos dos garantistas. Deve-se lembrar que foram eles que garantiram a liberdade ao médico Abdelmassih, ao banqueiro Cacciola, ao dono dos ônibus no Rio, o Jacob Barata Filho. É o Gilmar que reverte todas as decisões do juiz Marcelo Bretas, algo que, para mim, é mais que uma questão de divergência legal, mas é pessoal. E o beneficiado agora é o André do Rap.

Estou com as barbas de molho, esperando o que vai acontecer com os processos das rachadinhas, do foro privilegiado do senador e da interferência na PF por parte do chefe da família.

Marcos Inhauser

  

quarta-feira, 12 de julho de 2017

TROMBOSE POLÍTICA


Eu já tinha sido alertado, mas a coisa me pegou feio. Tenho uma mutação genética conhecida como Fator de Leiden ou Fator V que causa uma predisposição à hipercoagulabilidade e à trombose. Isto ocorre pela interferência na atuação da proteína C. A mutação é mais comum na população da Europa e nos descendentes. Dizem que 5% da população tem isto, mas que não é comum em latino americanos, africanos e asiáticos.

Na semana passada tive uma Trombose Venosa Profunda (TVP) com direito a UTI e hospital e recomendação de repouso absoluto. Um trombo se formou e se alojou na veia da perna esquerda. O sangue era bombado e levado até ela pela artéria, mas o retorno era prejudicado e obstaculizado pelo entupimento da veia, o que gerou um inchaço e dores decorrentes. Confesso que me assustei com a coisa, mais por ter que ficar em repouso.

Diante do repouso forçado, tive tempo para ver as notícias, ler coisas e refletir. Acabei por concluir que a política brasileira sofre do mesmo mal. O sangue cheio de oxigênio é enviado aos órgãos. Há o voto popular, o pagamento dos impostos e taxas, mas existem trombos que impedem que o resultado da oxigenação seja completo porque a corrupção entope os canais normais de funcionamento. Há o inchaço e a dificuldade de funcionamento pleno. No setor público a trombose se chama burocracia, propina, apadrinhamento, indicação política, esquemas, caixa dois, sobra de campanha, etc.

O remédio é tomar algo que vá “desfazendo” o trombo, para que a circulação volte ao normal. No meu leigo entendimento, este “desfazimento” precisa ser cauteloso e lento para que o processo não espalhe pedaços do trombo por outras partes. No caso da política brasileira, acho que o processo está se dando pela Lava Jato. Ela tem trabalhado constante e regularmente, com a velocidade que a complexidade amerita, retirando trombos da circulação e, especialmente recuperando o oxigênio que se perdeu durante os anos em que a trombose correu solta nos mais vários órgãos e segmentos da vida pública brasileira.

Ocorre que, a cada dia, somos alertados por mais um Ecodopler feito pela Polícia Federal ou PGR, dando conta de alguma outra artéria ou veia que está entupida ou com circulação dificultada. Os médicos/políticos charlatães vão dizer que há perseguição política, que os diagnósticos são obra de ficção, que se se retira o trombo todo o corpo pode sofrer, que o estado trombótico é antigo, que há uma trombofilia no DNA da política, que o diagnóstico é maluquice, que os remédios são amargos e com sérios efeitos colaterais, que se se viveu até agora assim, porque querer mudar o DNA do fator coagulante?

Estamos às voltas com mais um Ecodopler que mostra um trombo na artéria principal do corpo público: o trombo chamado Temer. Ontem, por causa do repouso, tive tempo e paciência para assistir toda a sessão da CCJ. Fiquei estarrecido com as manobras feitas para preservar o trombo que obstaculiza a livre circulação. Trocaram peças, feriram a ética, alegaram o escambau para dizer que o trombo da nossa aorta não é trombo, mas ficção de uma equipe médica desqualificada. Negaram a qualidade do aparelho que trouxe os indícios, que o exame é viciado e o diagnóstico é irreal. Trocaram os auditores por gente mais maleável, que mudou a visão porque colocaram à frente do diagnóstico alguns cifrões e cargos.

Esta trombose temerosa precisa ser tratada e o coágulo retirado o quanto antes, para que a oxigenação volte a ocorrer. Meu medo é que entre outro trombofílico no seu lugar. Aí seria de Maia para a minha cabeça!!!!

Marcos Inhauser


quarta-feira, 26 de abril de 2017

TEMPOS DE DILÚVIO

Tenho lá meus pruridos para ler certos textos bíblicos como historiográficos, como descrição de fatos reais acontecidos no passado. Quando se faz esta leitura mais literalista das narrativas, perde-se um universo de possibilidades de interpretações e lições que as estórias nos trazem. Neste meu espaço como colunista há quase 19 anos, por várias vezes já fiz esta colocação.
Quero trazer à consideração a narrativa de Noé, sua arca, o momento em que viveu e as providências que tomou. A narrativa diz que o SENHOR viu que a maldade se havia multiplicado e que era continuamente mau todo desígnio do coração humano. A pergunta que se impõe é se isto é algo que vale para o passado ou é algo que vemos e encontramos ainda hoje?
A julgar pelo que se está conhecendo pelas revelações feitas pelos delatores, pelas descobertas da PF e MPF, estamos vivendo tempos iguais aos que Noé viveu, tal o grau de promiscuidade e corrupção reinantes. A maldade tem se multiplicado, mostrando os desígnios escabrosos daqueles que se apresentaram ao público, pediram votos para defender os interesses da população. Sabe-se que o modelo eleitoral via propaganda pela TV é viciado e corruptor. Não se conseguirá mudar a representação política enquanto tal sistema existir, onde verbas milionárias abastecem campanhas dos que tem mais chances de vencer.
A esta altura vem a segunda afirmação da narrativa: Deus se arrependeu de ter feito o homem e isso lhe pesou no coração. O texto apresenta um Deus humano, com sentimento humano. Quem não se arrependeu de ter votado neste ou naquele? Quem nunca teve vontade de aniquilar os que roubam o povo e aparecem engravatados com discursos de ética e moralidade?
Isto foi o que Deus decidiu fazer: “farei desaparecer da face da terra o homem que criei, o homem e o animal, os répteis e as aves dos céus; porque me arrependo de os haver feito”. Decisão radical. Quisera eu ter o poder de determinar o extermínio da classe política e dos que se locupletam com a coisa pública. Há que notar-se que a corrupção que havia nos tempos de Noé tinha implicações e consequências sistêmicas, A maldade do coração afetava toda a criação. A corrupção de vereadores, prefeitos, deputados, governadores, senadores e presidentes afeta toda a criação. Quantos há que não tem médico, escola, merenda escolar com comida estragada, remédios vitais para a manutenção da vida não sendo comprados, museus abandonados, carne fraca e suas artimanhas para renovar prazos de validade, leite contaminado com soda cáustica, etc. Até o tamanho do Sonho de Valsa diminuiu e o preço aumentou.
Neste cipoal de desgraças, houve um que achou graça diante de Deus. Noé: homem justo e íntegro entre os seus contemporâneos e que andava com Deus. Quem é o Noé nestes tempos de Brasil? Os deputados da bancada evangélica estão gastando mais tempo lendo processos e código penal que a Bíblia. O “evangélico” Eduardo Cunha agora tem tempo para ler a Bíblia, mas continua arrogante e petulante como sempre foi.
Estamos em tempos de dilúvio. Foram quarente das de chuva e estamos neste período paradigmático. O número 40 na Bíblia é símbolo de provação, e estamos neste tempo. Temos lama de todos os lados. A coisa não parece arrefecer. Mas haverá o momento em que a pomba solta voltará com um ramo no bico, avisando que há sinal de vida decente lá fora.
Até lá, esperemos, participemos, construamos nossas arcas e convidemos a ela os que são nossos, tal como fez Noé que fez entrar seus três filhos e suas esposas. A salvação se deu na dimensão familiar.

Marcos Inhauser

quarta-feira, 4 de maio de 2016

QUEM VOS FASCINOU?

Acredito que o apóstolo Paulo, quando foi à Galácia, encontrou ali gente receptiva às novas ideias, o que o levou a se dedicar em criar uma comunidade alicerçada na teologia da graça e a completa libertação da escravidão das regras e mandamentos. Feito o serviço, foi para outras bandas. Mais tarde recebeu notícias que o deixaram frustrado. O que havia ensinado e posto em prática tinha sido abandonado.
Escrevendo a eles, em carta bastante biliática, exclama: “Ó gálatas insensatos! Quem vos fascinou a vós outros … Sois assim insensatos que, tendo começado no Espírito, estejais, agora, vos aperfeiçoando na carne?” (3:1-3). A frustração se devia ao retrocesso, à troca do excelente pelo medíocre.
No trabalho pastoral tive este tipo de sentimento algumas vezes. Pessoas e comunidades onde dei o sangue para ensinar a viver a graça e descobri, mais tarde, que se deixaram levar pelo domínio de regras e mandamentos. Gente que vem a mim elogiar pregadores de obviedades, anunciadores da justiça retributiva, mendigos religiosos a pedir esmolas para sustento deste ou daquele programa. Ouvir que Fulano é excelente pregador quando o elogiado foi duramente criticado por um grupo de pastores com teologia anêmica, que pediu que ele nunca mais fosse convidado. Gente que me manda vídeo de sermões horrorosos, no anseio de me converter ao be-a-bá que abandonei há muito tempo. Gente que se julga auxiliar e braço direito do Espírito Santo na obra da conversão, convencimento e santificação!
A mesma frustração se pode aplicar a outras esferas. Quem foi que vos fascinou para que, tendo começado no combate pela ética, vos tornastes símbolo da corrupção? Quem vos fascinou para que, tendo começado na luta pelos trabalhadores, vos tornastes a causa da maior crise de empregos da história do Brasil? Quem vos fascinou para que hoje condenes os instrumentos que vós usastes no passado? 
Quem vos fascinou, ó Zé Dirceu, para mudar o que dissestes em 1992, quando do impeachment do Collor: "Não é o presidente Ibsen Pinheiro, não são os partidos que sustentam o processo de impeachment do presidente da República e não é esta Casa; mas, sim, a Constituição que estabelece que a autorização é matéria de competência da Câmara dos Deputados".
Quem vos fascinou, ó Aldo Rebelo, para hoje pensar diferente do que pensavas em 1992: "Querem melhor proteção, querem mais democracia, querem mais direito de defesa do que esta Casa precisar de dois terços de seus votos para autorizar processo contra um corrupto? Para que mais proteção? Para que mais democracia?".
Quem vos fascinou, ó Aloizio Mercante, para que hoje negues o que dissestes em 1992: "O desafio de consolidarmos a democracia no Brasil e darmos ao mundo o exemplo de quem sabe corrigir os erros sem ferir a ordem constitucional.”
Seria o Fiat Elba do Collor mais pecado que as pedaladas e decretos ilegais? Seriam os desvios do PC Farias mais corrupção que o que já se sabe pela Lava Jato?
Quem vos fascinou? Ou deveria ser a pergunta feita desta forma: o que vos fa$cinou para serdes hoje o oposto do que dizias que serias?
Marcos Inhauser

quarta-feira, 15 de julho de 2015

POLITEIA

Os nomes dados às operações da Polícia Federal indicam que há gente que lê e estuda dentro da corporação. Os mais variados nomes já foram usados e a mais recente, deflagrada ontem, Politeia, remete ao texto de Platão, a República, onde o filósofo tece comentários negativos à democracia. Dizem os entendidos que, influenciado por uma postura intelectualista de Sócrates, Platão a incorpora em seu pensamento, dando-lhe amplitude política. Em a República demonstra que não é possível pensar a política como prática qualquer e corriqueira, destituída de orientação cognitiva e de pressupostos epistemológicos.  Assim, toda ação política correta depende da visão dada por um saber relacionado à organização da cidade.
Para ele, a pólis é um organismo moral e uma comunidade ética, cuja finalidade é a realização da justiça e da virtude e não somente a conquista de objetivos como a segurança,  bem-estar,  produção de riquezas etc. Para isto, é necessário se fundar a pólis com uma elite intelectual, a qual, possuindo a sabedoria, norteará o funcionamento da vida política.
Se o que temos no Brasil é uma democracia, certamente não o é nos termos mencionados por Platão. O que temos está mais para corruptocracia. Vale citar SHAPIRO (Os fundamentos morais da política. Trad. de Fernando Santos. São Paulo: Martins Fontes, 2006, p. 245): “Como existe o predomínio da democracia no mundo contemporâneo, qualquer investigação dos fundamentos morais da política tem, ... , que estar atenta ao papel desta na legitimação dos regimes políticos. O fato de que governos das mais diversas colorações ideológicas, ... , tentem se cobrir com o manto da democracia é uma prova a mais ... de que o compromisso com a democracia é um componente indispensável da legitimidade política [...] No mundo contemporâneo, ... , a aprovação à ideia de democracia é ... inegociável.”
Em outras palavras, há a necessidade inegociável de se chamar democracia aquilo que é corruptocracia.
Os eleitos não são os mais qualificados intelectualmente (os apedeutas eleitos nos mais variados níveis são prova disto), nem os mais bem preparados para a vida pública. Elegem-se os que têm visibilidade midiática, os que têm apelido jocoso, são filhos de políticos ou são conhecidos por atividade que nada ou pouco tem a ver com as habilidades para a vida política.
No sistema eleitoral brasileiro, onde a eleição é ganha com tempo de televisão e assessoria marqueteira, aliada ao fato de que os detentores de cargos eletivos dispõem de um caminhão de assessores ou contratados como comissionados, regiamente pagos com o erário, a renovação dos eternos políticos é tarefa hercúlea.
O financiamento das milionárias campanhas, se feitos com recursos próprios, só permite que ricos sejam eleitos. Se financiados pelo setor privado, o preço será cobrado, assim como se cobrará também o que foi gasto com recursos próprios.
Fala-se em reforma eleitoral e a Câmara está às voltas com ela. Do que se pode depreender naquilo que já foi votado e do que está por vir, as mudanças são cosméticas. Atacam-se alguns efeitos, mas não a causa: o custo das campanhas e a rigorosa fiscalização dos gastos e financiamentos. Pelo andar da carruagem, tudo indica que o poder fiscalizador da Justiça Eleitoral (que já era tênue e e-lento-ral) será ainda mais engessado pela redução dos prazos de investigação e sentenciamento. Acrescente-se a isto o fato de que há gente querendo que a destituição de prefeitos, vice, governadores, etc. só possa ser feito por órgão colegiado e não mais por sentença monocrática.
Ao que parece, ainda demoraremos algumas décadas para que a corruptocracia seja substituída pela democracia, pela eleição de agentes com sabedoria e não apelido, com conhecimento e não presença midiática, gente que não se orgulhe de não ter estudado e nem que afirme que ler dá sono.
Marcos Inhauser

quarta-feira, 25 de julho de 2012

MÁFIA OU CACHOEIRA


Há no Brasil a jabuticaba, que dizem só existir na terra brasilis, há os produtos jabuticaba (aqueles que a gente só encontra nesta terra, como, por exemplo, as novas tomadas elétricas), há as jabuticabas enxertadas, que são jabuticaba com inspiração estrangeira.
O caso Cachoeira parece ser desta última geração. À medida que os dados vêm à luz, percebe-se que a coisa é maior do que qualquer cidadão brasileiro pudesse imaginar. Creio mesmo que até os que estiveram envolvidos nas investigações se assustaram com os tentáculos desta hidra brasileira (animal mitológico de muitas cabeças, que renasciam em maior número à medida que se cortava uma delas). Desta hidra sabemos pouco, pois acredito que muito mais há para ser revelado e descoberto.
O que até agora se sabe levanta a questão: é um caso de corrupção ou um modelo mafioso que se instalou no governo de Goiás e de lá lançou tentáculos a outras partes?
Note-se que define a máfia como organização criminosa que tem suas atividades submetidas a uma direção oculta e que se infiltra na sociedade civil e instituições, com o objetivo de ter e vender facilidades. Dedicam-se às coisas ilícitas, seja no jogo, no tráfico, na corrupção, na venda de armas, etc. Para tanto arregimentam funcionários públicos e policiais para facilitar ou fazer vistas grossas às suas atividades. Sabe-se de políticos que tiveram suas campanhas financiadas, que foram eleitos e trabalharam fazendo lobby e defendendo os interesses dos financiadores.
A máfia não tinha escrúpulos em “ajuizar” os infiéis ou inimigos. As execuções sumárias de delatores, apóstatas e inimigos se tornaram prosaicas e renderam alguns filmes de boa bilheteria.
No caso tupiniquim, a coisa, ainda que pareça jabuticaba, está com tempero mafioso. Policiais civis, militares e federais que recebiam um mensalão para lubrificar os negócios ilegais dos caça-níqueis. Funcionários públicos locupletados para direcionar licitações. Prefeitos, vereadores, senadores e quiçá até governador que receberam financiamento para suas campanhas e que trabalharam como lobistas do empresário boa pinta, que, na fachada, era dono de uma empresa farmacêutica.
Acrescente-se a isto o laranjal que era utilizado para fazer os pagamentos espúrios, a compra sub ou superfaturada de uma mansão até agora não esclarecida devidamente, os quinze milhões de pagamento para que o ex-ministro da Justiça seja o advogado defensor, a chantagem feita em cadeia nacional de televisão dizendo que o marido não é bandido e que vai contar o que sabe, fazem desta Cachoeira algo, que para mim, está mais para a máfia que qualquer outro escândalo.
Não bastasse o enredo descrito, tem-se a morte do policial Tapajós, que participou nas investigações, o delegado Hylo Marques está sumido (que era informante do grupo mafioso) e um escrivão que trabalhou nas investigações foi encontrado morto em casa. Era Fernando Sturi Lima, 34 anos, teria se “suicidado” com um tiro na cabeça.
Ainda vai rolar água desta Cachoeira!
Marcos Inhauser

quinta-feira, 17 de maio de 2012

MODERNOS VERSALHES


Na semana passada escrevi algo sobre os hábitos higiênicos nos palácios da Europa nos séculos XVII e XVIII e sobre o fato de que no palácio de Versalhes não havia banheiros. As fezes eram jogadas janelas afora. As pessoas não escovavam dentes, nem tomavam banhos regulares e por isto precisavam ser abanadas para disfarçar o mau cheiro.
Enquanto escrevia a coluna comecei a pensar se a situação atual é diferente. Dos Palácios modernos, especialmente os brasileiros, tem saído muito mau cheiro, muita caca. Sejam eles Palácios federais, estaduais ou municipais, o que se tem notícia é que são fétidos e enlameados (perdão pelo eufemismo, mas o espaço não me permite o uso da palavra correta). Os Palácios fétidos são ligados aos poderes Judicial, Legislativo e Executivo. O recente escândalo do Cachoeira veio mostrar o quanto a lama entrou nos palácios e quanto mau cheiro está exalando e por exalar.
Pensei também que as tais CPIs são como leques a esparramar o mau cheiro, afastar o mau cheiroso, sem nos dar a segurança de que os outros gambás também serão retirados. Os paladinos da moral acabam por se mostrar empresários do mal. Aí estão os desembargadores flagrados com o dinheiro dos precatórios, os deputados mamando na contravenção dos bingos, os asseclas encontrados nos palácios se beneficiando de esquemas de sobrefaturamento (vide o recente caso na PM de São Paulo com o encarregado de autorizar alvarás de construção e que tem mais de 120 imóveis), governadores que se enriquecem do dia para a noite ou jantando em restaurantes de contas astronômicas pagas por empresário que se locupleta com o dinheiro público, senadores donos de estado ou proprietários do gado mais fértil do mundo, prefeitos que montam esquemas milionários de desvio, tal como o correu em Campinas e outras cidades da região e no Brasil.
Neste sentido, fico à espera de novidades mau cheirosas na Prefeitura de Campinas, outra vez. Notícia veiculada por este jornal na semana passada mostra como os partidos políticos perderam a vigência em Campinas, cedendo espaço às negociações diretas dos vereadores com o Executivo.
Fontes bastante bem informadas me passaram um dado preocupante: depois da ascensão do novo prefeito, tem havido um festival de nomeação de novos coordenadores e criação de novas coordenadorias na Sanasa, todas com salários entre quatorze e vinte e cinco mil. Até uma Coordenadoria de Saúde Bucal foi criada, só Deus sabe para quê. Boa parte dos recém-nomeados não tem histórico de trabalho com a Sanasa.
Não é de hoje que a Sanasa, ao invés de tratar o esgoto e a água, tem recebido o esgoto da política. É emblemático o fato de ter a Sanasa um prédio sem janelas, envidraçado em sua totalidade, impedindo que se veja de fora o que lá dentro acontece. Total falta de transparência!!!
Marcos Inhauser

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

VAI ACABAR EM PIZZA?

Quando do processo de cassação do prefeito Dr. Hélio, levantavam-se questões sobre o sucessor dele, uma vez que o vice-prefeito, quem por lei deveria assumir, estava também enrolado. A saída seria que o presidente da Câmara assumisse. Ocorre que, nos bastidores se articulava que seria muito difícil alguém querer assumir o cargo por um mandato tampão, sendo que depois não poderia concorrer à eleição e ter um mandato completo. Falava-se em “deixar o Vilagra na Prefeitura” e buscar alternativas para que o processo se estendesse até a posse do novo prefeito, eleito pelas urnas. Desconfiado por natureza, especialmente com a classe política, eu identificava nestas conversas um cheiro de pizza no ar. Tinha para comigo que haveria um baita jogo de cena para que as coisas ficassem como estão. Tive a pachorra de assistir a toda a sessão da Câmara que recebeu a denúncia contra o Vilagra, assisti aos poucos discursos feitos (quem mais falou foi o PT) e notei e anotei o que o líder deles (aceito por indicação oral ao presidente da Câmara, em desobediência ao Regimento Interno que pede que a indicação através de carta) entrou com pedido rejeição da denúncia alegando que os fatos apontados não estavam relacionados ao exercício do mandato de prefeito e que, por isto, não poderia ser investigado por uma Comissão Processante. Anotei também que o mesmo líder, conhecido o resultado, declarou que entrariam com recurso junto ao Judiciário. Notei e anotei que o presidente da câmara, quando “soube” da decisão do juiz, se disse “surpreso” e afirmou que a coisa estava agora no colo do juiz e do Judiciário, que avocou para si a decisão de manter o prefeito, no que pese a decisão da Câmara. Estranhei. Ele disse que a Câmara recorreria da sentença, primeiramente junto ao mesmo juiz pedindo que revisse a decisão tomada e que depois, se necessário, iriam às instâncias superiores. Notícias dão conta de que o Tribunal de justiça negou provimento ao recurso da Câmara e o Vilagra continua no cargo. Ora, para que ele tenha um mínimo de governabilidade terá que se acertar com a Câmara que votou maciçamente contra sua permanência. Os mesmos vereadores que o afastaram agora vão negociar apoio. Que me perdoem os vereadores, mas isto tem, no mínimo, cheiro de pizza no ar. Em que bases serão negociados estes acordos? Como entender esta negociação se há na mesma Câmara investigação de compra de voto pelo não afastamento do Dr. Hélio? Seria a Câmara, que já teve vereadores envolvidos em escândalos de ticket-refeição, pedágios, funcionários fantasmas, nepotismo, se convertido em Convento de Santos Políticos? Eu, de minha parte, homem de fé, devo confessar que minha fé não chega a tanto. Marcos Inhauser

terça-feira, 26 de maio de 2009

COMIPÇÃO

Nos últimos meses tive a oportunidade de conversar com algumas pessoas que tem ou tiveram relações estreitas com os corredores do poder, tanto em nível federal, estadual, como municipal. Nas conversas, como é óbvio, não poderia deixar de tocar o tema da corrupção e os casos que vieram à tona, notadamente os relacionados ao Senado e a farra das passagens aéreas.

Nas considerações que ouvi, houve uma unanimidade: o que veio à tona é só a ponta do iceberg, só uma pequena ponta de tudo o que ocorre nos descaminhos do poder. Cheguei à conclusão de que se cobra comipção (neologismo formado de comissão e corrupção) até na compra de palito de dente.

Segundo estes, há muita coisa, como favores prestados a deputados e senadores que traficam influência, viciam licitações para que sejam vencidas por quem “financiou” suas campanhas, aceitam sobrepreços, pagamentos de pilares inexistentes em túneis e pontes, metragens descumpridas em estradas, capa asfáltica 50% menos espessa e largura de estradas mais estreitas do que está no contrato, o que dá ganhos exorbitantes às empreiteiras. Há os “pedágios” mensais em base a um porcentual sobre a arrecadação nos serviços “privatizados”.

Um deles me contou de uma farra financiada há mais de uma década por um empresário que levou de passeio a Mônaco mais de dez deputados e senadores e alugou um iate ao custo de US$ 120.000,00 dólares/dia.

O outro me perguntou se eu acreditava que a farra dos pedágios e o jardineiro fantasma eram os casos mais cabeludos da Câmara de Campinas. Ele me disse que a celeuma em cima da identificação dos carros usados pelo poder municipal é quase nada diante de outras coisas. Ele me pediu que prestasse mais atenção às mudanças nas leis de zoneamento, contratos sem licitação feitos em regime de urgência, custo do aluguel dos carros, a forma como certos “empregados” são pagos por agências de publicidade e locadores de veículos, como forma de camuflar gastos.

Na segunda-feira houve uma manifestação dos donos de postos de gasolina, vendendo o produto sem os impostos para que a população se conscientize do quanto há embutido no preço. Houve onde se vendeu o produto a R$ 1,27. Se remédio genérico paga 37% de imposto, se vacina para animal é isento, se escola paga mais tributo que lotérica, dá um mal estar danado. É um dinheiro que vai pelo ralo, falcatruas de ilustres “otoridades”.

Quando pergunto a estas pessoas se há esperança eles me afirmam que não vêem luz no final do túnel, que a cultura da comipção é arraigada no Brasil, que a população tem um comportamento bovino de passividade. De minha parte, não voto mais em ninguém que tenha mandato. É meu não à reeleição.