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quarta-feira, 10 de outubro de 2018

REMANESCENTE FIEL

Quem me lê nesta coluna que escrevo há mais de 17 anos, já leu esta minha afirmação, feita mais de uma vez: “o senso comum é a expressão da idiotice, porque é a somatória das afirmações feitas pelos que não pensam, mas repetem o que ouviram sem refletir no que ouviram ou repetem”. Também já devem ter lido que tenho minhas dificuldades com acreditar naquilo que a maioria acredita, pois, aprendi muito cedo na minha vida, graças à professora Margot Proença, que devo sempre perguntar sobre tudo o que ouço. Acredito no efeito manada, que faz com que alguns touros saiam correndo e a manada toda, sem saber porque, também corre. É o processo de indução comportamental em grandes aglomerações, onde, sem razões, todos se apavoram e passam a ter comportamentos até autodestrutivos.

Decorre disto a minha dificuldade em ver filmes premiados com o Oscar, ler best-sellers, duvidar de pesquisas que dão uma grande margem de diferença entre o primeiro e o segundo e, em segunda opção, duvidar do que está melhor colocado nas pesquisas. A lição da Margot está sempre na minha mente: questione tudo! E é isto que procuro fazer.

Levando para o campo da teologia e da eclesiologia, tenho minhas dificuldades com as estrelas midiáticas do mundo gospel, com os aplaudidos e idolatrados cantores, com pregadores incensados, com igrejas monumentais onde a maior virtude é ser grande. Conheço muitas delas em alguns países da América e Ásia e constatei in loco a minha suspeita. Minha definição para igreja é: “qualquer comunidade que tenha alguém que os demais não sabem o nome e nem quem é, deixou de ser igreja”. Não acredito que uma reunião de 1.000 ou mais seja igreja. Pode ser plateia. O essencial do ser igreja é a comunhão e isto implica em “comum+união” e não é igreja onde as pessoas entram e saem e não conhecem e nem são conhecidas. Para mim, a promessa de Jesus de Ele estaria onde estivessem dois ou três é altamente significativa.

O conceito de remanescente fiel, presente no AT e o Apocalipse tem sido descartado porque atenta para a onda do tamanho, do gigantismo, do efeito manada onde todos correm e aplaudem as estrelas. Em várias ocasiões este conceito está presente. Veja-se o cântico de Débora (Jz 5), a família de Noé (Gn 5 em diante), Elias e os profetas de Baal (IRs 18 ss), o profeta Micaías que, chamado por Acabe, disse oi contrário de todos os outros profetas (IICr 18, ss), Jeremias quem foi o único e predizer a desgraça e orientou no sentido de se entregar. Saliente-se que Deus sempre manteve para si um remanescente fiel, formado por aqueles que não dobraram seus joelhos diante de Baal (1 Reis 19.18). Esse remanescente incluía Davi, Joás, Isaías e Daniel, Sara, Débora e Ana.

Tome-se esta promessa feita através do profeta Miqueias: “E da que coxeava farei um resto (remanescente) ... (Mq 4:7. Deve-se também considerar a explicação para a escolha de Israel: “Se Iahweh se afeiçoou a vós e vos escolheu, não é por serdes o mais numeroso de todos os povos – pelo contrário: sois o menor dentre os povos! – e sim por amor a vós e para manter a promessa que ele jurou aos vossos pais.” (Dt 7,7-8)

O compromisso de Deus é com o pequeno, o órfão, a viúva, o estrangeiro, o menor, o marginalizado, explorado, escravizado, violentado, abusado, etc. Prefiro estar deste lado da história que formando as grandes massas que apoiam e aplaudem sem critério.

Marcos Inhauser

quarta-feira, 17 de agosto de 2016

IGREJA É GENTE

Não entendo que seja acidental o fato de que os evangelhos, as cartas e o Atos dos Apóstolos façam qualquer menção a um edifício que abrigasse alguma comunidade cristã nos primórdios da igreja. Sem espaço nesta coluna para me delongar na fundamentação histórica e fática de tal afirmativa, relembro que Jesus pregou seus sermões no monte, na praia, desde um barco, no interior de uma casa. Uma única vez o vemos em uma sinagoga. Relembro ainda que quando ele foi a Jerusalém e ao templo pela primeira vez, foi quando criança. Quando adulto, criticou o que ali se praticava, tendo derrubado as mesas dos cambistas.
Por ter sido perseguida, a igreja nascente teve que se esconder, fazer suas reuniões de forma quase silenciosa, em Roma se reuniu nos subterrâneos (catacumbas), teve seus líderes perseguidos, presos e martirizados.
Nos primeiros trezentos anos da igreja não se falou em edifícios, templos ou coisa que o valha. Tudo indica que isto começou a acontecer depois que o cristianismo foi considerado a religião oficial do império romano, por obra e graça (para alguns, desgraça) de Constantino. Porque agora era legal, oficial e abrigava o imperador, se devia ter construções que abrigassem ao imperador e seu séquito. Ele mudou a capital do império para Constantinopla (em homenagem a si mesmo) e ali construiu um palácio eclesial que fosse digno de sua presença. Nascia assim a catedral!
Esta associação do templo com o palácio real também se deu nos tempos de Salomão que teve o seu palácio ao lado do templo, com acesso privativo.
Esta associação levou o cristianismo a um caminho desviante: confundir igreja com edifício. Igreja é gente reunida em comunhão, nunca edifício. Igreja é feita de gente e não de tijolos, telhas, bancos, púlpito e holofotes.
Igreja é gente reunida em comunhão, que tem o compromisso de amar o próximo e ajudá-lo em suas necessidades. Igreja é o compromisso de atender ao pobre, à viúva, ao exilado, ao estrangeiro. Igreja é serviço, é doação, é lavar os pés.
Se olharmos para as religiões templárias (as que se apresentam em função do edifício que têm), o quanto arrecadam, o quanto gastam com a manutenção do patrimônio (limpeza, conservação, água, luz, pintura, faxineiros, etc.), aliado ao uso semanal que o elefante branco tem, constata-se que há um clamoroso desperdício de recursos na construção e uso dos edifícios. E o pobre, a viúva e os demais necessitados pouco ou nada tem de ajuda destas comunidades templárias.
Templos são locais maravilhosos para os narcisos se exporem. Congregam centenas, milhares, todos olhando à frente, para o iluminado pelos holofotes. Todos ouvem o que ele diz porque um potente sistema de som irradia o que ele fala. Templo não é lugar de conversa, diálogo, mútuo aprendizado, antes de exercício do monólogo do que sabe, que “ instrui a horda que não sabe”. No templo não se exercita comunhão, só a audição. No templo só ficamos sabendo das necessidades da organização: precisamos de tantos mil para terminar a reforma disto, para pagar o programa de rádio ou televisão, para reformar o telhado, etc.
No templo não se fala do pobre, porque não são bem-vindos: precisam estar decentemente vestidos, tomados banho e perfumados, como a maioria dos templários estão.
Igreja é gente, é serviço de amor ao próximo, é comunhão íntima que se tem nos pequenos grupos. Igreja é conhecer gente, é saber das suas histórias e necessidades, é envolver-se com o outro. Igreja é ser família, a família da fé que é tão família quanto pai, mãe e filhos.

Marcos Inhauser