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quinta-feira, 20 de outubro de 2011

CRIANÇAS TERCEIRIZADAS


Celebra-se hoje o Dia das Crianças, invenção mais ou menos recente. No Brasil foi "inventado" por um político, o deputado federal Galdino do Valle Filho, quem teve a idéia de criar um dia em homenagem às crianças, isto na década de 1920, o que foi oficializado por Arthur Bernardes no dia 5 de novembro de 1924. No entanto, foi somente em 1960, quando a fábrica de Brinquedos Estrela fez uma promoção conjunta com a Johnson & Johnson para lançar a "Semana do Bebê Robusto" e aumentar suas vendas, é que a data passou a ser comemorada. A estratégia deu certo e se perpetuou e o comércio agradece.
Alguns países também comemoram o Dia das Crianças em datas diferentes. Na Índia, a data é  15 de novembro. Em Portugal e Moçambique, ela acontece no dia 1º de junho. No dia 5 de maio é a vez das crianças da China e do Japão. Muitos países comemoram o Dia das Crianças em 20 de novembro, já que a ONU reconhece esse como o Dia Universal das Crianças, data em que também é comemorada a aprovação da Declaração dos Direitos das Crianças.
Philippe Ariès, em seu livro “História da Criança e do Adolescente”, revela que na Antiguidade a criança não era tomada em conta socialmente. Tal se dava porque as famílias costumavam ter muitos filhos e não havia porque comemorar algo tão comum. Com a diminuição da taxa de natalidade, famílias passaram a ter um ou dois filhos e perceberam a necessidade de celebrar este evento, fazendo comemorações de aniversário e tirando fotos em quantidade, na tentativa de “congelar” algo que era raro.
Ele também aponta para o fato de que, na antiguidade não muito distante, as pessoas tinham em suas casas retratos dos avós ou pais, porque alguém que chegasse a uma idade avançada era raridade, haja vista o baixo nível de expectativa de vida.
O que me preocupa nos tempos que vivemos é que, se na antiguidade a criança não era tomada em conta pela quantidade delas, se depois se passou a celebrar os aniversários e a arrumar datas festivas para presentear as crianças, tem-se também um crescente processo de terceirização da formação e educação dos filhos. Cada vez mais há menos pais e mães dispostos ou com tempo para criar seus filhos. Cada vez mais há gente sendo contratada para “amar os filhos no lugar dos pais”, para ensinar valores e colocar disciplina.
O que se pode ter disto é um processo de massificação, onde a individualidade formada no contato único da relação pai/filho, mãe/filho passa a ser moldada no padrão comportamental imposto por um regulamento/metodologia escolar comum a todos os demais que participam do mesmo grupo.
Marcos Inhauser

terça-feira, 23 de agosto de 2011

NO PARAÍSO HÁ DISCIPLINA

O paraíso tem limites. Nem tudo se pode no paraíso. Há coisas possíveis e impossíveis. O paraíso não é o desfrutar de tudo que queremos, mas o desfrutar de tudo que podemos. No Éden havia um limite: até aqui podem comer de tudo; daqui para frente já não mais. Isto requeria uma dose de autocontrole, de disciplina.
Uma das coisas que tem me preocupado na tão propalada pós-modernidade é a ausência de critérios universais pela absoluta relativização e subjetivização dos valores morais. É certo e bom o que julgo como tais. Sou eu e mais ninguém quem deve ditar normas éticas para mim.
Uma vertente disto é a orientação que se tem passado aos pais de que a educação dos filhos não pode ser negativa (é proibido falar “não aos filhos”) antes deve ser de completa liberdade para que a criança descubra por si mesma o que pode e não pode. Ocorre que, a uma criança que não soube ouvir e obedecer “nãos”, será um adulto que não saberá dizer não quando isto for necessário. Uma das grandes consequências disto é que, quando lhe oferecerem drogas, porque na infância não lhe ensinaram a respeitar limites, não terá autocontrole para dizer não. Antes, porque tinha que descobrir por si o certo e o errado, se atirará de corpo e alma, tal como o educaram.
Não há paraíso sem domínio próprio, sem autocontrole, sem disciplina. Já no paraíso edênico, o lugar perfeito criado por Deus, havia um limite que impunha aos seus habitantes uma dose de domínio próprio. Estavam no paraíso, mas nem tudo lhes era permitido. O paraíso não é anarquia, a ausência de regras ou comportamento ético. Muitos são os que buscam o paraíso no comportamento aético ou antiético e se dão mal porque encontram o inferno.
Acabo de ler um livro que trata dos modelos de pais e sua influência sobre as filhas. A autora, depois de muito pesquisar, afirma que um pai que tenha autoridade (o que é diferente de ser autoritário – fabricante de ordens), que coloque de forma clara e precisa os limites dos “podes” e “não podes”, traz benefícios duradouros para seus filhos. A grande maioria deles não terá problemas de comportamento, nem mesmo na adolescência, e a vida sexual deles será qualitativamente melhor que a de filhos e filhas provindas de lares anárquicos.
Há limites no trabalho. Quem o faz além da conta se estressa, se enferma, ganha morte. Há coisas que podem e devem ser feitas no trabalho e há outras que não podem ser feitas. Um comprador de uma firma não pode comprar além de certos limites determinados pelas necessidades da sua empresa. O encarregado dos pagamentos não pode pagar além do devido e das reservas existentes. O atleta tem seus limites e deve conhecê-los e respeitá-los. Se ele treina para correr dez quilômetros e um dia decide correr trinta ou quarenta e cinco, poderá se lesionar gravemente. O cantor tem seus limites ditados pela extensão da sua voz. Poderá alcançar até um determinado limite os agudos e graves. Tentar ir além pode redundar em prejuízo à sua voz. Há limites no comer e no beber. O excesso pode se constituir no pecado da glutonaria e da bebedice, com os consequentes sintomas e enfermidades que isto acarreta.
O limite de não poder tocar na árvore do conhecimento do bem e do mal estabelece uma dimensão ecológica: há limites na capacidade e autoridade do ser humano de explorar a criação do Senhor. Deus criou o mundo e tudo o que nele há e o deu ao ser humano. Ocorre que esta doação não foi completa. Houve restrição. Mesmo no paraíso não se pode tudo e avançar o sinal é alterar o equilíbrio da natureza com a introdução da morte. Quando o ser humano explora a natureza de maneira irracional e sem considerar o equilíbrio ecológico, está trazendo morte à terra, à vegetação, aos animais. Ir além do que lhe é permitido no uso da natureza é repetir o pecado original, é trazer morte.
Em todo lar, família, trabalho, negócio, enfim em tudo que fazemos, há coisas permitidas e não permitidas. Educar os filhos para viver esta realidade é uma prova de amor e de responsabilidade.
O paraíso requer responsabilidade. Se é verdade que há limites a serem postos e obedecidos, também é verdade que o estabelecimento deles tem suas consequências. As decisões no paraíso não são inconsequentes: produzem, sempre, vida ou morte. O fato de haver necessidade de limites não nos dá autoridade de ir colocando-os onde bem entendemos. De cada ato de estabelecer limites ou de transgredi-los há um preço a ser pago. Há limites que produzem morte e há os que produzem vida. O legalismo é uma tentativa de colocar limites além da conta, gerando a morte da consciência crítica. Para o legalista só há uma alternativa: obedecer. O pai autoritário, o líder religioso legalista, o governante totalitário não permitem arguições, só obediência.
Cada limite colocado merece uma reação igual e contrária. Pode ser questionado e até desacreditado. Os limites perdurarão na medida em que produzem vida naqueles que os respeitam. E esta deve ser a chave para analisar os limites que temos nos nossos paraísos: desobedecê-los produz morte? E esta é a eterna alternativa que todos temos diante de nós: ou comemos da árvore da vida ou comemos da árvore da morte.
Marcos Inhauser