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quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

QUEM VOS FASCINOU?

O apóstolo Paulo fez três viagens missionárias e, ao que tudo indica e os estudiosos apontam, visitou a região da Galácia nas três viagens. Definir os limites de tal região é algo que tem suscitado controvérsias e não tenho aqui espaço para isto. O que se sabe é que, na região da Galácia, especialmente nas cidades de Icônio, Listra e Derbe, ele teve atuação que marcou a sua forma de entender o evangelho e nelas estabeleceu comunidades cristãs.
Tudo indica que os Gálatas praticavam uma forma de politeísmo romano-céltico, comum em outras terras célticas e ali Paulo pregou o seu evangelho da graça, livre dos preceitos legalistas dos judaizantes ou das religiões de mérito, onde o fiel recebe segundo suas ações. Dá-me a impressão que Paulo se dedicou de corpo e alma a esta tarefa e acreditou piamente que os gálatas tinham entendido o evangelho da graça e que viveriam pela graça.
No entanto, na carta que escreve às igrejas, percebe-se um tom de frustração e indignação. Em nenhuma outra missiva ele foi tão duro e contundente quanto o foi ao escrever a estas igrejas. O texto, no seu início, tem uma advertência dura e defesa clara do evangelho de Cristo. Nota-se uma brusca ruptura entre a saudação inicial (Gl 1,5) e o texto seguinte (Gl 1,6) que mostra o estado de humor do autor e sua decepção com os gálatas. Ela difere das outras cartas onde, à saudação inicial, segue-se ação de graças e elogios. Tal era sua indignação e certeza do que lhes havia pregado que afirma: “... ainda que nós ou mesmo um anjo vindo do céu vos pregue evangelho que vá além do que vos temos pregado, seja anátema. ... se alguém vos prega evangelho que vá além daquele que recebestes, seja anátema. ... Faço-vos, porém, ... que o evangelho por mim anunciado não é segundo o homem, porque eu não o recebi, nem o aprendi de homem algum, mas mediante revelação de Jesus Cristo.”
Dada a seriedade e a certeza do que havia pregado, dada a esperança de que a graça prosperaria no seio destas comunidades, Paulo se decepciona amargamente e escreve: “Ó gálatas insensatos! Quem vos fascinou a vós outros, ante cujos olhos foi Jesus Cristo exposto como crucificado? Quero apenas saber isto de vós: recebestes o Espírito pelas obras da lei ou pela pregação da fé? Sois assim insensatos que, tendo começado no Espírito, estejais, agora, vos aperfeiçoando na carne?”
Esta carta me leva constantemente à pergunta: por que é tão difícil para os cristãos viver a graça? Por que, mesmo sendo instruídos nela, preferem, pregadores de méritos, do Deus que dá segundo o seu dízimo, que prometem o milagre, a cura, a posse, como se senhores de Deus fossem, dando-lhe ordens? Por que é mais fácil acreditar que foi a fé que imaginam ter o que causou a benção, do que acreditar que a dádiva foi presente imerecido?
Por que, pessoas que viveram certo tempo em uma comunidade onde a graça é ensinada, acreditam que seu filho, genro, marido, vizinho, amigo só se converterão se forem para outra igreja, onde a “des-graça” é pregada, onde a salvação vem pela obediência, e a “graça” exige a aceitação de uma decisão?
Por que pregar a graça é cair em desgraça diante dos pregadores de milagres e arrecadadores contumazes? Por que pregar a graça é ser acusado de incentivar a licenciosidade e o anarquismo religioso?
Na Sua infinita graça, Deus permitiu que houvesse no Novo Testamento uma carta para nos alertar que os pregadores de certezas e de recompensas segundo as boas ações devem ser anatematizados, amaldiçoados! Não sou eu quem o diz. Reclamem com o apóstolo Paulo e com o Espírito Santo!

Marcos Inhauser

terça-feira, 16 de outubro de 2012

NÃO ME DEIXE CANSAR

Estávamos reunidos em culto na casa de uma pessoa. O ambiente era pesado porque a filha do casal que nos recebia estava na UTI do hospital. Usuária de drogas, ela havia se entregado há alguns anos a todas elas, mais álcool.
Muitas vezes vimos a mãe chorando, pedindo que orássemos pela filha, que ela fosse liberta das drogas, mas parece que nada resolvia. A cada dia ela ia se definhando e com ela definhava a mãe a o pai.
Naquela semana a situação chegou ao limite extremo. A filha estava morrendo. E nesta situação estávamos ali em culto e oração. Tínhamos a notícia de que a moça estava com falência dos dois rins e que passaria por hemodiálise, mas sem garantia de ela pudesse sobreviver.
A mãe, quieta e chorosa, estava arrasada. Tomei a coragem de perguntar a ela como se sentia e como havia aguentado tanto tempo a situação de ter uma filha que desaparecia e que quando voltava, era um trapo de gente.
Ela, de forma calma, disse mais ou menos o seguinte: “Nestes anos todos eu só tinha uma oração que eu fazia e faço. Pedia a Deus que não deixasse eu me cansar da minha filha. Ela aparecia a qualquer hora do dia ou da noite, sob chuva ou sol, sempre baleada pelas drogas. Eu a recebia, cuidava e amava. Ouvia as promessas que ela me fazia e me perguntava se dava para acreditar. Logo depois ela ia outra vez para a rua e voltava só Deus sabe quando. Eu ficava orando e pedindo a Deus que eu não me cansasse da minha filha. Eu hoje peço a Deus que a livre desta situação. Se ela sair desta e precisar fazer hemodiálise para sempre, e se meu rim for compatível, vou doar um rim para ela.”
Eu não acreditava no que estava ouvindo. Uma mãe disposta a dar parte de si para uma filha que jogou a sua vida fora, que estava nas últimas pelas lambanças que fez e uma mãe pedindo que ela vivesse e que seu rim fosse compatível para poder doar a ela.
Um misto de irritação, desconforto e incredulidade caíram sobre mim.
Oramos pela moça, mas eu não acreditava que ela pudesse escapar. Terminado o culto fui para casa e não conseguia dormir, pensando naquela oração e na disposição de doação. Foi quando um pensamento me veio forte (os mais espiritualizados diriam que Deus me falou): era a demonstração concreta da graça divina através de uma mãe para com uma filha que não merecia nada, depois de tudo o que havia feito.
Hoje eu faço a mesma oração. Há algumas pessoas que estou pedindo a Deus que eu não me canse delas, no que pesem o fato de serem murmuradoras, pessimistas, se passarem por vítimas, fazerem de uma vírgula uma novela, carentes afetivos. Pessoas que cansam, folgadas, espaçosas, que não dão o direito ao outro de falar, mas falam pelos cotovelos, interrompem, inconvenientes, repetitivas, egoístas.
Tomei a oração desta mãe como lema: Deus, não me deixe cansar destas pessoas doentes.
Marcos Inhauser

quarta-feira, 3 de junho de 2009

COMPORTAMENTO RETRIBUTIVO

Há algo que tem caracterizado o comportamento humano ao longo dos séculos: a reciprocidade. Parece que é inato ao ser humano. Quando uma criança se machuca e chora, a outra que está próxima também começa a chorar, mesmo que nada lhe tenha acontecido.
Esta atitude também pode ser vista em certos comportamentos espontâneos que temos e que não conseguimos explicar: por que sorrimos em resposta ao sorriso de umdesconhecido? Por que temos a tendência de ficar alegres se estamos perto de alguém alegre, e triste em companhia de alguém triste?
Há quem diga que temos em nosso cérebro uma área dedicada ao “espelhamento”, que é esta capacidade de reagir em sintonia com os sentimentos dos outros. Lemos o estado de espírito da pessoa e nos amoldamos a ele, como forma de aceitação, mesmo porque, se chegamos alegre a alguém que teve uma perda significativa, não seremos bem aceitos e até criticados. Esta capacidade, ainda segundo estudiosos, se estende ao gestual e postural, pois, inconscientemente, assumimos posição corporal análoga à de nossa companhia, como forma de criar sintonia e empatia.
Há, no entanto, um tipo de comportamento que se dá na esfera consciente e que está em retribuir ou não a uma ação feita por alguém. É muito comum encontrarmos quem diga: “eu não o cumprimento porque ele nunca me cumprimentou”, “eu não o convido porque ele nunca me convidou”, “não falo com ele porque ele nunca falou comigo”, “só faço se ele tomar a iniciativa”.
Há três coisas neste comportamento que quero salientar. A primeira delas é a tentativa de colocar no outro a responsabilidade pela minha atitude. É um mecanismo de defesa iníquo, injusto, porque coloca além de mim a responsabilidade da iniciativa que vise à mudança. A segunda é que só faz perpetuar a situação. Se ambos usam da mesma argumentação, nunca se terá a mudança. Este comportamento é imaturo, ingênuo e infantil. A terceira é que a cadeia causa-efeito-que-se-torna-causa tem o condão de acentuar as diferenças e a rivalidade. É um cavar de poço, indo cada vez mais fundo.
Há nos ensinamentos de Jesus a máxima do “dar a outra face”, “do andar a segunda milha”, “do perdoar setenta vezes sete”, do pedir perdão a quem nos crucifica. É a lógica da graça, do agir sem que o outro mereça, do fazer o que não se espera que se faça, como forma de romper o círculo vicioso do comportamento retributivo.
A graça para com quem desgraça os relacionamentos é um gesto que, por mais engraçado que possa parecer, congraça os seres humanos, permitindo que a graça agracie a todos.