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quarta-feira, 9 de setembro de 2015

CRISTÃOS POLÍTICOS OU POLUÍTICOS?

Há alguns cristãos que se envolvem com a política e confundem as luzes que vêm das Escrituras e da igreja como sendo as do programa de um partido político e acabam transformando sua militância como igual à sua vida cristã. Eles se esquecem que Deus não está em competição com a natureza, mas que Deus e somente Deus pode ser Jesus Cristo, perfeitamente humano e divino, não se confundindo com as coisas criadas como se estas fossem extensões do Seu ser, concepção ao gosto dos panteístas. Nenhum governo, programa de governo, partido ou programa partidário pode ser tão divino ao ponto de ser tomado como sendo manifestações do Reino de Deus. Este foi o grande problema dos adeptos da teologia do Destino Manifesto, que confundiram o American Way of Life como sendo o próprio Reino de Deus.
Os que se envolvem com a política partidária precisam se lembrar constantemente que Deus não fez e age no mundo via manipulação, violência, chantagem ou injustiça, tal como muitos dos mitos e deuses pagãos fazem. Porque Deus criou as coisas do nada (creatio ex nihilo), a criação foi um ato da mais pura generosidade e graça. Se os religiosos-políticos não entenderem isto (a generosidade e graça divinas na criação), eles se sentirão compelidos e autorizados a praticarem atos injustos, iníquos e corruptos.
É o amor e a qualidade dele, exercido por Deus na criação e na manutenção das coisas criadas, que define e determina a maneira como devemos viver em comunidade e que deve ser a vida em comunhão. A liberdade separada do amor só pode se tornar em licenciosidade, forma deturpada de amor e mera busca da felicidade. Assim procedendo, os programas terceirizam o amor, mas ao mesmo o privatizam como sendo atos de governo (vide Bolsa Família e outros programas sociais). Adicionam a este cardápio a departamentalização da comunhão: nós e eles, governo e oposição, eleitos e golpistas.
A igreja de Jesus Cristo e seus fieis não devem buscar o poder político como projeto eclesiástico. A igreja que se identifica com um partido ou o utiliza para ter mecanismos de pressão pela eleição de deputados via manipulação dos fieis para votar nos pastores e bispos da Igreja, deixou de ser igreja e passou a ser ente político. Deixou de servir para servir-se do poder.
Cristãos que se envolvem com a política devem ter consciência de que devem ser exemplo de integridade, serviço e amor ao próximo. Não podem estar associados ao serviço retributivo ao próximo, esperando recompensa em votos de possíveis favorecidos ou fazendo advocacia de porta de cadeia, nem podem ser forjadores de documentos falsos, mesmo que lhe emprestem certa legalidade, ainda que fajuta. Devem ser exemplo de trabalho em comunhão e nunca se enquadrar no que Pedro escreveu: “como dominadores sobre os que vos foram confiados” (1 Pedro 5:2,3). Devem dar o exemplo do serviço e nunca chantagear o rebanho com a “retirada da proteção espiritual que o pastor oferece”.
Como pode ser um cristão político, exercendo cargo no executivo ou legislativo se não deu exemplo no trato das questões de obediência aos princípios da Palavra (como não mentir, não roubar, não prestar falso juramento, não ameaçar, não chantagear, não se colocar como absoluto)? Terá ele mais ética no trato da coisa pública do que teve na relação com o próximo e com Deus? Como esperar que obedeça à Constituição se não obedeceu ao Estatuto e Regimento Interno de sua comunidade? Que usa da Igreja para lavar dinheiro de propina? Que recebe salário sem trabalhar? Que usa o nome da Igreja para legitimar seu trabalho solitário de angariar votos?
Há gente que se diz especialista em leis, não para cumpri-las, mas para burlá-las, para manipular juízes. Nisto está a diferença que um dia um estrangeiro me mostrou: “na Europa, quando se promulga uma lei, o povo busca como cumpri-la; no Brasil, diante da nova lei, busca-se como burlá-la”.

Marcos Inhauser

quarta-feira, 26 de agosto de 2015

PASTOR, OVELHAS, LOBOS E TIGRES

Recebi este texto do Rev. Marcos Kopeska, amigo e colega de ministério, que edito para que caiba neste espaço.
“O profeta Jeremias, lá pelos idos do ano 600 a.C., alimentava uma esperança que reflete nosso anseio hoje: "...e dar-vos-ei pastores segundo o meu coração que vos apascentem com sabedoria e conhecimento." (Jr 3:15). Conta-se a fábula de um pastor que gostava muito de suas ovelhas. Elas não tinham presas, garras e nem chifres. Eram indefesas e o pastor prometeu defendê-las sempre. Jamais mataria uma ovelha para comer, por isso vivia de frutas e legumes e, se necessário fosse, passaria fome. Em razão da sua dieta era muito magro, por vezes debilitado, não obstante feliz com sua vocação. Nas cercanias moravam lobos que apreciavam churrasco de ovelha, por isso a atenção do pastor era intensa e incansável. O gostar de ovelhas, sob a ótica do pastor, tinha a ver com a lã da ovelha, mas sob a ótica dos lobos tinha a ver com churrasco.
Todo líder alega gostar de seus liderados, mas sob qual ótica? Pois bem, a notícia de que havia ovelhas por ali se espalhou e logo vieram hienas e cães morar com os lobos. O pastor impotente, com apenas um cajado, muniu as ovelhas de couraças, chifres e dentes de aço. As ovelhas, sem saberem lidar com o equipamento tornaram-se mais frágeis ainda e os churrascos mais frequentes. O pastor teve então a brilhante ideia: “Vou contratar tigres para cuidar do rebanho, mas precisam ser tigres vegetarianos.” Encontrou-os, contratou-os mas aos poucos eles foram degustando os restos de ovelha deixados e concluíram que carne de ovelha era mais palatável do que frutas e vegetais.
Os tigres fizeram um acordo com os lobos e hienas de que de dia cuidariam do rebanho, mas de noite comeriam juntos o churrasco de ovelha, ocasionalmente morta por causas “que fugissem ao seu controle”.
O pastor observando que os tigres estavam relapsos no cuidado, chamou-os para uma repreensão, mas ao longo da repreensão um tigre, sem dar muita atenção às palavras do pastor, perguntou: “Qual seria o gosto da carne de um pastor?” Outro respondeu: “Só provando para sabermos.” Entre a fala dos tigres, o pastor notou que entre os dentes de um dos tigres havia vestígios de lã. O pastor interrompeu a conversa, entendendo o que acontecia e propôs: “Vamos fazer um acordo...” A assim viveram felizes, num bom acordo de paz: pastor, lobos, hienas, cães e tigres. Vez ou outra comemoravam os avanços da paz com um churrasco de ovelha.
O pior é que parece ser este o padrão da relação “Igreja & Estado” a que chegamos em nossa Pátria mãe gentil. Alguns pregam que o cristianismo deve ser apolítico, mas aí os churrascos de ovelha serão mais frequentes e descarados. Outros creem que a igreja deva ser politiqueira, fazendo parte dos acordos em troca de favores. Ela se torna lobo ou hiena, menos ovelha. Creio que devamos promover ambientes cristãos de esclarecimento – apartidários - sobre temas relevantes que envolvam os próximos debates políticos da nação. Criar espaços onde as comunidades reflitam sobre corrupção, violência, modelo de família, assistencialismo, aborto, educação, ... Espaços onde nossos adolescentes conheçam uma nova consciência cidadã cristã. Espaços que levem o povo cristão às urnas, livres dos sutis enganos e das viciosas seduções da política partidária.  Ambiência de conscientização e reflexão, não de acordos.
Que Deus nos ajude a ter uma nação com pastores e ovelhas, mas sem churrascos após cada eleição.

Marcos Inhauser