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segunda-feira, 9 de julho de 2012

SECULARIZAÇÃO GRADATIVA


As últimas pesquisas sobre a religiosidade no Brasil têm revelado o crescente número de pessoas que se afirmam arreligiosas ou ateias. Acrescente-se a isto os que declaram ter fé, mas que se negam a estar vinculados a uma estrutura religiosa. Outro dado que veio à luz nos últimos é a queda no número dos que estavam vinculados à Universal e o crescimento da Igreja Mundial do Poder de Deus.
O crescente número dos não-religiosos e ateus se deve a um processo que se deu na Europa a partir da Segunda Guerra Mundial e que se convencionou chamar de secularização, que leva as pessoas a não mais considerar ensinos tradicionalmente religiosos como normativos para as suas vidas, preferindo adotar valores culturais ou de mercado. Há indícios que este secularismo está também vinculado à melhoria das condições sociais e econômicas, pois, tendo mais recursos, menos dependentes de Deus se tornam.
Nesta vertente é comum encontrar os que se valem do pragmatismo ou utilitarismo para justificar ações e comportamentos. Mais que isto, a secularização tem o condão de retirar as esperanças, especialmente as relacionadas à vida futura e até mesmo uma vida aqui mais justa e próspera.
No caso específico do contexto brasileiro, além da propalada ascensão econômica da classe D (fato discutível e que merece aguardar dados estatísticos de mais longo prazo), há a religiosidade secularizante.
A partir dos anos 70, com o surgimento e explosão do neo-pentecostalismo e a competição acirrada que se estabeleceu entre as várias correntes, a fé se tornou marketing (O Show da Fé!), as bênçãos viraram mercadoria e Deus foi esvaziado para se tornar em ajudante de ordens de pregadores que ousam dar-lhe ordens.
Transformada a fé em marketing e a benção em mercadoria que se compra nos templos dos “iluminados”, onde um bispo ou apóstolo determina a Deus o que deve acontecer, a dimensão mística e numinosa da fé e do sagrado se perdem e a racionalidade cartesiana do “pagar para receber” transforma a experiência sagrada da oração, da meditação, da comunhão, do serviço, do amor ao próximo em algo secularizante: Deus se deixa vender! E o Deus que se deixa vender não é Deus e, portanto, passo a ser ateu.
A religião do sucesso tem a habilidade de criar frustrados e decepcionados. Faz aumentar o número dos ex-membros de alguma igreja, que detestam pastores e cultos, que buscam formas alternativas de viver a fé, seja em pequenos grupos ou em vidas cristãs isoladas, muitos se dedicando ao autodidatismo bíblico e teológico, mãe das grandes heresias.
A religião midiática que cresce na direta proporção das horas de programa de televisão que veicula, que gasta milhões mensais para repetir ad nauseam as mesmas coisas, que promete o q não entrega, que fala mais em dinheiro que em amor ao próximo, mais em poder que em serviço, não é religião: é comércio. E comércio é o deus Mamom, secular e secularizante.
 Marcos Inhauser

terça-feira, 23 de março de 2010

DE RAINHA A RELES Já foi o tempo em que a teologia era a Rainha das Ciências. Nos idos tempos da Idade Média, a ciência era medida como verdadeira pela sua consonância com os ensinamentos da Igreja. Quando discordava da teologia, morte aos hereges era a sentença, haja visto o que aconteceu a Galileu, entre outros. Já foi o tempo em que a Igreja reinou soberana e entronizava e destronava reis, promovia a Inquisição e não era questionada pela sociedade. Os poucos que a isto se aventuravam eram condenados. Lá se vão os tempos em que a teologia e a Igreja ditavam o que podia ou não ser lido, criando o Index, relação dos livros e autores proibidos. Idos são os tempos em que, como representante de Deus na terra, por ser Ele o Criador de tudo, a Igreja era a autoridade visível a administrar tal propriedade divina. Para tanto, a Igreja expedia autorizações para que os “descobridores” pudessem entrar em novas terras e dela se assenhorear, por terem a permissão divina via Igreja. A Igreja, ao longo dos séculos foi perdendo sua autoridade e vigência. Primeiro foi o questionamento feito por Lutero e os reformadores da autoridade espiritual da Igreja em perdoar pecados. Depois, o marco mais claro desta derrocada foi o Iluminismo, que questionou as verdades da fé, dos milagres e da própria existência de Jesus como divino. Junte-se a isto que o religioso Isaac Newton, com a lei da gravidade tirou o Deus que sustentava as estrelas e astros no céu, e reduziu-O a uma fórmula. Mais tarde, Marx tirou Deus da história e Freud o tirou de dentro do ser humano. Assim, com início no século XIX, a igreja veio perdendo seu espaço, vigência e poder na sociedade. A Rainha das Ciências se enrolou ao entender o que acontecia no mundo. Movimentos fundamentalistas e conservadores, tanto na Igreja Católica como nas Protestantes, ao invés de pensarem a fé como resposta ao mundo em que viviam e tentar dar respostas às perguntas que o momento histórico planteava, se limitaram a repetir antigas fórmulas teológicas e teólogos, como se Agostinho, Lutero, Calvino e Tomás de Aquino fossem os últimos iluminados. O advento da fragmentação religiosa que o mundo viu surgir, com o surgimento dos mais variados modos religiosos cristãos, notadamente os de corte pentecostal e neo-pentecostal, trouxe à tona uma miríade de “pregadores de abobrinha”, gente sem nenhuma formação bíblico-teológica, analfabetos bíblicos e que mal compreendem o que lêem, que tem tido acesso às rádios e televisões, vociferando suas “verdades” como se Vox Dei fossem. Arrogantes, petulantes e impostores, deram a pá de cal no sepultamento da credibilidade da Igreja. Gananciosos, transformaram a pregação em venda do sucesso, da riqueza fácil, anunciaram que “o fim justifica os meios” e a riqueza pessoal foi construída às custas das ofertas dos incautos. Ser Igreja hoje é ser vitrine para o escárnio, para a zombaria, para a desconfiança. Não fosse o profeta Jeremias quem disse que “ai de mim se me calar, porque tua voz me queima por dentro” e “fostes mais forte que eu e prevalecestes”, eu já teria pendurado as chuteiras. Marcos Inhauser