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quarta-feira, 30 de novembro de 2011

ARGUMENTATIVO


Meu neto Thiago tem seis anos de idade. Ele é um formigão: adora doces. Há alguns meses, por recomendação médica, começou-se a controlar a quantidade de açúcar diária. A mãe dedicou-se à árdua tarefa, restringindo a dieta. Todos os dias ele pede bala e ela diz que não vai dar para o bem da saúde dele.
Dia destes ele perguntou à mãe:
̶ Quando eu crescer eu vou casar. E quando eu casar vou ter filho?
̶ Sim, você poderá casar e ter filho.
̶ Quando eu tiver filho eu vou dar duas balas todos os dias para ele!
A mãe percebeu a alfinetada do filho e retrucou:
̶ Quando você tiver seu filho você vai se preocupar com a saúde dele e também vai se preocupar com o que ele come e quanto come, especialmente em se tratando de doces.
̶ Mas eu vou dar duas balas para ele todos os dias!
̶ Aí você não estará preocupado com a saúde dele.
̶ Mas eu vou estar preocupado com a felicidade dele também, e por isto vou dar duas balas todos os dias.
Não é a primeira vez e nem sou o único a ser surpreendido com as afirmações dos filhos e netos. Isto faz parte da história da humanidade.
No entanto, tenho para comigo, no que penso sou secundado por muitos outros, as crianças de hoje estão mais “inteligentes”, mais rápidas no gatilho e mais argumentativas.
Há algumas possíveis explicações para isto. A própria expressão “dar à luz” tinha um significado original diferente daquele que hoje damos. Ela se referia ao dia em que a criança, depois da quarentena em quarto escuro no qual era mantida logo após o nascimento, era trazida à luz. Isto era, em alguns casos, quarenta dias depois do nascimento. A criança era confinada e, de certa forma, engessada nas fraldas, faixas e cueiros. Parece que era proibido se mexer, espernear, sentir a liberdade depois de meses encerrado na bolsa uterina. Justificava-se dizendo que devia ser enfaixado para que a coluna “endurecesse”.
As exposições aos estímulos externos eram mínimas. Seu mundo, no mais das vezes, era viver no “chiqueirinho”.
Houve uma mudança drástica no nascimento, cuidado, educação e oportunidades. Elas estão mais livres e soltas, seus pais saem a passear com elas logo nos primeiros dias de vida, ouvem música, veem televisão, vão às escolinhas, interagem com outras crianças, aboliu-se o chiqueirinho, acessam o celular, IPhone, Ipad, games.
Os brinquedos estimulam o raciocínio e a capacidade argumentativa. Mais que ordens verticais, os pais aprenderam a dialogar e a explicar aos filhos o por que das coisas. Eles aprendem e argumentam. E nós nos surpreendemos e ficamos de queixo caído.
Marcos Inhauser

quarta-feira, 29 de abril de 2009

Quero ser criança, sempre

Já tive oportunidade de contar minhas peripécias com meus netos e como aprendi com a história o real robot. Mas, talvez, a mais significativa, tenha sido uma que não diretamente relacionada ao robô. Estávamos em Shanghai em um dia chuvoso e sem muita opção de passeio. Fomos a um shopping com muitos brinquedos para crianças, mas coisas eletrônicas, onde a participação é mínima: você passa a ser o objeto da ação e não senhor dela.

Minha filha viu um cartaz de um show de acrobatas chineses e nos perguntou se queríamos ir ver. Os netos perguntaram o que era isto e ela explicou. Eles se animaram. Ao me perguntar e devolvi a pergunta: mas vamos poder aplaudir com entusiasmo? Ela respondeu afirmativamente.

Lá fomos nós. Sentamos na quarta fila e meus lados, um de cada lado. Começado o espetáculo eu coloquei o menor no meu colo para que pudesse melhor ver (sentou um cabeção à sua frente) e comecei a comentar que era difícil fazer o que o acrobata estava fazendo, que por trás da exibição havia muitas horas de treino. Ao final daquela apresentação, plauadimos com entusiasmo. Em seguida, o neto mais velho também para o meu colo e comecei a dizer “uau” e eles começaram a dizer “awesome” a cada coisa mais atrevida ou difícil. A certa altura estávamos todos de tal forma envolvidos e participando do show, que gritávamos “unbelievable”, “incredible” a cada pouco e os netos aplaudiam em pé. Era uma festa. Era como estivéssemos no palco juntos, fazendo com eles as coisas.

A filha e a esposa tentavam estavam desconfortáveis com nossa euforia.

Olhando para trás, acho que foram dois shows: o dos acrobatas no palco e o nosso na platéia. Saímos em êxtase, como se tivéssemos visto o indizível. Os netos chegaram ao hotel e contaram ao pai tudo o que haviam visto e não o deixaram dormir até bem tarde da noite, tentando reproduzir os saltos e contorcionismo que viram.

Voltando para casa, eles montaram um circo no porão e começaram a praticar saltos, a melhorar a performance. E eu com eles, incentivando e vivendo a criança com eles. No dia do aniversário da avó fizemos uma apresentação de acrobacia (se é que não ofendo os acrobatas chamando assim ao que fizemos).

O Reino é assim: ele nos entusiasma, nos convida a subir ao palco e brincar como crianças. Quando deles participamos queremos contar aos outros a nossa delícia de experiência e evangelizamos pelo entusiasmo e pelo convite a ser crianças como nós. E sendo crianças sempre, nos apropriamos da plenitude do Reino.