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quarta-feira, 23 de agosto de 2017

COBRADO A FORCEPS, GASTO A RODO

Não vivemos uma democracia. O modelo político brasileiro é a impostocracia. Não temos o poder de decidir o quanto podemos e devemos contribuir, mas ele é tirado a fórceps de nossos holerites e bolsos. No Brasil não se paga impostos: eles são roubados de nós. A carga tributária excessiva e o retorno pífio de benefícios advindos do seu uso é gritante.
Os políticos brasileiros são verdadeiros gigolôs: vivem a extorquir o sangue dos que se entregam ao trabalho árduo, como se o povo fosse a prostituta que eles dominam e escravizam. Somos escravizados pelos políticos que, na ânsia de sempre ganhar mais sem trabalho, mas de ter à custa do trabalho alheio, produzem mecanismos de escravização. Eles se chamam Imposto Retido na Fonte, Antecipação de Receita, Cadastro de Proteção ao Crédito, Serasa, Lista Negra, Certidão Negativa de Débito, Alíquota, ICMS, ISSQN, IR, IBTI, IPTU, IPVA, e a miríade de tributos e taxas e outras formas de extorquir o suor do povo.
As recentes elevações de impostos, taxas, contribuições previdenciárias, a proposta de criação do bilionário Fundo Eleitoral, mais a existência do Fundo Partidário, a quantidade e assessores, viagens, auxílios e quejandas que os políticos recebem, formam a trama escravizadora que se sustenta com o que os gigolôs tiram da sociedade. Tal como nas estruturas de trabalho escravo, onde os trabalhadores mal recebem salário e vivem a dever para os patrões, porque precisam comer e se vestir, tornando-se eternos devedores, assim também a sociedade brasileira. Trabalhamos arduamente e o que recebemos mal dá para se ter uma vida confortável. Duvido que algum trabalhador médio brasileiro (a grande maioria) tenha parte do luxo ou conforto que os salários dos políticos têm. Para eles o luxo, para o povo o lixo!
Neste emaranhado de comodidades e asseclas, ficamos sabendo esta semana que, no Congresso e gabinetes de Brasília há a figura de um Fiscal do Café. O que eles têm de graça precisa ser testado e controlado por um Fiscal que ganha salário de executivo. Fiscal de Café em um país onde muitos nem café tomam porque não podem adquirir o pó para fazê-lo.
A indústria e o comércio brasileiro vive às voltas com tantas leis, portarias, decretos e regulamentações que obedecer a todos é certeza de que, em algum momento, um fiscal poderá multar, porque conflitantes. Esta parafernália fiscal é feita para autuar. Sempre há um ponto ou outro em que um fiscal pode pegar alguma coisa e lascar uma multa milionária. O empregado brasileiro é refém de uma justiça trabalhista anacrônica e parcial, inventando indenizações a cada nova sentença.
Os financiadores extraoficiais dos gigolôs têm a certeza da impunidade se tiver um amigo ministro no STJ, como aconteceu com a Abdelmassih, Cassiola e recentemente com os empresários dos ônibus no Rio de Janeiro. Flagrados, tiveram o Habeas Corpus concedido pelo amigo ministro. Padrinho de casamento da filha, aquele que não se sente impedido nem para emitir juízo sobre si mesmo. É a imparcialidade absoluta!
Talvez a atitude de gigolô dos políticos, em parte, se deva à prostituição de eleitores. Eles se vendem por uma dentadura, uma consulta médica, uma receita oftalmológica, um par de óculos. Prostituição a baixo custo que garante o luxo na capital.
A política brasileira é um lixo! Fazem do povo a boca do lixo para viverem na boca do luxo!

Marcos Inhauser

quarta-feira, 7 de junho de 2017

VULCÕES POLÍTICOS


Na Costa Rica há um vulcão, Poas, que está em constante erupção, mas que não chega a derramar lavas para fora. É possível visitar, chegar à borda e ver o lago de coisa incandescente lá no fundo. É um parque turístico e muitos para lá vão. Ocorre que há dias em que a visitação está proibida porque, ainda que não lance lavas, lança pedras de tamanhos variados e quentes, que podem machucar. No caminho até à borda se encontra muitas destas pedras.

Em El Salvador há o lago de Ilopango que, segundo dizem, é um vulcão extinto que se encheu de água e hoje é um lago. O mesmo acontece com o de Mohanda, no Equador, que dá para entrar de carro dentro dele e nadar no lago que ali se formou. Da mesma forma o lago de Cuicocha.

Há vulcões e vulcões. Como brasileiros, ainda que não tenhamos nenhum vulcão ativo, vivemos em meio aos sismos provocados pelas erupções do vulcão político. Este vulcão esteve por muitos anos quieto, acumulando água e se pensava que suas águas eram calmas e que nada aconteceria. Houve, no entanto, um dia em que um sismo mostrou que a coisa poderia mudar de figura. Foi um vídeo gravado por um funcionário do correio relatando um esquema de falcatruas. As águas calmas do fundo do vulcão se movimentaram e houve quem quis garantir que voltariam ao normal em breve, que era marola.

A marola virou onda e as águas esquentaram e jogaram para foram algumas lavas e pedras, que machucaram os que muito perto dele estavam: foi a erupção do mensalão. Saiu pedra de todo lado, água fervente e muitos se queimaram, mas nem todos. Uns mais, outros menos, mas o vulcão fez sua obra de abalo parcial.

Depois de um tempo, tudo parecia que voltaria ao normal. Tal como no Poas. Dava até para visitar e ir fazer turismo à sua borda. De repente, uma lava veio como jato. Sismólogos e vulcanólogos perceberam que a coisa era feia e começaram a monitorar os microssismos, a temperatura interior e viram que a coisa explodiria a qualquer hora. Primeiro foram as explosões dos gerentes da Petrobrás que delataram a temperatura interna das falcatruas. Os menos avisados e os interessados em acalmar o público disseram que era mais fumaça que erupção.

Veio a delação dos executivos. Setenta e sete explosões que lançaram lava a jato para todos os quadrantes. Achava-se que era a erupção do fim-do-mundo. Não era.

Quando avaliaram os estragos destas setenta e sete explosões, tentaram dizer que os danos estavam sob controle, mesmo tendo atingido os pilares da política. Parecia que o vulcão se aquietava. Que nada. Lá veio a erupção (ou devo dizer “corruerupção”) da JBS e J&F. Foi lava prá todo lado, queimando e machucando meio mundo.

Tal o tamanho da erupção que até o presidente e o seu amigo de “extrema confiança”, mais o mineiro até então impoluto, saíram queimadíssimos. Oitenta e tantas pedradas foram arremessadas prá cabeça do Temer na forma de perguntas que a PF lhe enviou.

Mas ontem à noite, com hora marcada e televisionamento, mais uma erupção do vulcão: o julgamento da chapa Dilma-Temer. Ainda não se sabe o tamanho desta erupção, mas gostaria que fosse como os vulcões Kilawea, o Krakatoa, o Popocatépetl que lançam para fora as lavas. No nosso caso, que sejam lançados para fora as sujeiras e os corruptos, que saiam queimados para nunca mais voltar.
Marcos Inhauser

quarta-feira, 5 de outubro de 2016

PERPETUAÇÃO POLÍTICA

Nenhum poder político é natural e inerente. Sempre é concessão via votos, eleições ou, em casos extremos e recrimináveis, via violência do golpe ou pelas “vias constitucionais” (vide exemplo da Venezuela e Bolívia). Nenhum poder político é eterno. Mesmo os mais poderosos imperadores e reis sucumbiram pela morte, deposição ou queda. O exercício do poder democrático é o exercício do diálogo, ao contrário do poder autocrático que é o monólogo de “um-que-tudo-sabe”. Na democracia se busca a maturidade cidadã (ao menos é o que se espera), na autocracia se produz o paternalismo.
Por outro lado, já dizia Maquiavel, que não há posse mais duradoura que a ruína. Quem se torna senhor de uma nação livre e não a destrói, será destruído por ela. O desejo de liberdade não se esquece nunca e ele será o motor para destronar os reis que arruínam a vida do seu povo.
O exercício do poder político se dá sobre um determinado povo e espaço geográfico. Não há controle remoto nesta matéria. Quando os poderosos deixam de cooperar para o bem do seu povo, mesmo que antes o tenham feito, este mesmo povo, anteriormente beneficiado, se levantará contra para recuperar o que lhe foi tirado ou para ampliar o que tem. Quando o povo tem os benefícios e estes se mantêm iguais por um longo período, a insatisfação cresce e o poder político está ameaçado. Eis, assim, o paradoxo: se não dá o que o povo espera, é derrubado. Se dá e se mantém no mesmo nível, o povo se insurge querendo mais.
Como todo poderoso tem o desejo de se tornar eterno no poder e que seu reinado se perpetue na lembrança do povo, precisa ele ser hábil nas concessões e na administração das insatisfações. Ser eterno, eis a questão.
Para que este projeto se realize, precisam conquistar o poder, prometendo ao povo, aos mais necessitados, aquilo que anseiam porque vital para eles: saúde, educação e segurança. Daí porque os discursos de campanha se repetem a cada nova rodada.
Na história recente do Brasil viu-se projetos que esperavam vinte ou mais anos de poder. Se inicialmente produziram alguns benefícios para o povo, enveredam-se por caminhos os mais desastrados possíveis. Assim foi o Sarney com o Plano Cruzado que redundou na hiperinflação (ainda que, dizem as más línguas, ele se eternizou no poder); assim foi com o Collor e sua “caça aos marajás”, que redundou na sua própria caçada e de seu tesoureiro. O FHC com sua ambição produziu o advento da reeleição e, depois de terminar seu mandato, muitos dos seus tinham vergonha de colocá-lo ao lado nas aparições públicas. Assim foi com o PT: do “Fome Zero” para o Mensalão e Petrolão.
Muito se fala que o povo não sabe votar. Isto é verdade em parte. Muitos dos corruptos, dos malandros, dos propineiros não conseguiram se eleger ou se reeleger. Ficaram pelo caminho. Partidos há que encolheram, perdendo votos, prefeituras e representação nas Câmaras Municipais. O PMDB encolheu 12,5% e o PT bateu os 60,9%. Como toda regra tem sua exceção, o PP, todo enrolado com a Lava Jato, manteve-se praticamente igual: -0,1%.
Houve significativa renovação nos quadros políticos, o que dá certa esperança de que gente nova terá novos hábitos e nova forma de fazer política. E assim deve ser, haja visto a alta taxa de abstenção, votos nulos e em branco. Somados, pode-se entender como uma nota Zero para a classe política.

Marcos Inhauser

quarta-feira, 18 de maio de 2016

TEMER(IDADES)

O sentimento de indignação com a corrupção está à flor da pele dos brasileiros. Não há dia que algo novo não venha à tona, envolvendo os mais variados setores da economia, os mais variados personagens, tanto na esfera pública como privada, tanto tubarões como lambaris. A coisa transpareceu na Câmara, quando da votação da admissibilidade de julgamento da presidente. Muitos (se não a maioria dos deputados), ao explicitar seu voto no festival de babaquices que se viu, declarou o desejo de colocar um fim à corrupção, ainda que o assunto não fosse o que estava em pauta e nem era o que se votava.
Com isto, vejo que a nomeação do ministério feita pelo presidente-interino Michel Temer foi uma Temer(idade). Indicar sete ministros que estão sendo acusados pela Lava Jato é uma temeridade. Sei que ninguém é culpado a priori, que só se torna culpado depois de sentença transitada em julgado, que a pessoa é inocente até que se prove o contrário. Ocorre que, salvo raríssimas exceções, os que tiveram seus nomes citados pelos delatores premiados foram posteriormente investigados e se comprovou o que diziam. Aí está o caso do Eduardo Cunha, do Delcídio Amaral, do Argolo, do Pedro Henry e outros mais.
Ter o ministro Eliseu Padilha é uma temeridade. Ele foi acusado de ser lobista, de ter atuado em favor de empresas e de ter pago dois milhões de forma ilícita. A acusação foi feita em 2003, a ação foi impetrada em 2013 (!!!) e até agora nada de julgamento.
O Geddel Vieira Lima é acusado de ter desviado mais de um milhão da corretora de valores do Baneb (1999), o que lhe custou a demissão do cargo que ocupava. Ainda pesam sobre ele o fato de ter mensagens interceptadas nas quais advogava a favor da OAS, o que lhe garantiu recursos para sua candidatura ao Senado, graças à “generosidade” do Léo Pinheiro.
O ministro Moreira Franco teve um apartamento leiloado pela Justiça (1997) para que se devolvesse dinheiro utilizado indevidamente para enaltecer as suas obras à frente do governo do estado do Rio.
O ministro Henrique Eduardo Alves, quando da sua eleição para a presidência da Câmara em 2013 teve uma série de acusações feitas contra ele: de ter dinheiro não declarado no exterior, contratar empresa laranja, beneficiar assessor, entre outras.
O ministro Blairo Maggi ganhou o prêmio Motosserra de Ouro, já foi considerado como um dos mais ferrenhos apoiadores do desmatamento, é conhecido como rei da soja (título que perdeu para Eraí Maggi). O estado de Mato Grosso forma o "Arco do Desmatamento" (a parte da Amazônia mais desflorestada) e o desmatamento do estado dobrou no seu governo. Uma temeridade colocá-lo no Ministério da Agricultura.
Temeridade foi a entrevista do ministro da Justiça, falando o que não era hora de falar e dando cordas para uma série de interpretações, inclusive a de que o novo governo interferiria na Lava Jato. Na mesma linha, também a entrevista do ministro da Saúde (que recebeu financiamento de campanha de planos de saúde), quem disse que o SUS precisa ser readequado, o que provocou celeuma e ele teve que recuar no mesmo dia.
Temeridade é chamar sindicalistas para que proponham mudanças na Previdência. Pura perda de tempo, porque nunca apresentaram nenhuma proposta concreta e não o farão agora.
Temeridade é ter um ministério com doze ministros que receberam, contribuições de empresas que estão na Lava Jato.
Temeridade é ter um ministério sem mulheres e negros.
Temeridade é querer mudar o Brasil nos seis meses que, porventura, estará em um governo interino, ou até 2018, caso venha a assumir a presidência.

Marcos Inhauser

quarta-feira, 2 de março de 2016

MAIS MEDO QUE ESPERANÇA



Sabe-se que o medo é a mola propulsora da criatividade e que esta também é fruto da necessidade. Por outro lado, também é paralisante porque, diante dele, muitos paralisam e se deixam vencer pelo medo. O problema é a atitude assumida.
A esperança, por sua vez, é a mola motora para o futuro. Ela é a que provoca o dinamismo. Sem esperança morremos.
Estamos vivendo momentos em que o medo se mostra mais presente que a esperança. Penso na infinidade de pessoas que saem todos os dias para o trabalho com o medo estampado na face de que podem perder o emprego. Ontem, em um banco, um jovem à minha frente comentou que estava entrando em período de férias coletivas, ao que o outro disse: isto é pre-demissão. Foi a instalação do medo no outro.
Ainda agora falava com uma pessoa de RH que ficou um mês em casa, de férias, e deve voltar amanhã. Está sem dormir achando que vai perder o emprego e se o perder, não terá como pagar as contas.
No Brasil de hoje estamos com medo do desemprego, das contas, do zica, da dengue, da chikungunya, da impunidade, da corrupção, etc. Há também o medo dos investigados pela PF e Justiça. Há quem desça da van mascando chiclete, como para dizer que está tranquila, há o que desce dela sorrindo e há os que cobrem a cabeça para não serem vistos. Há os que se negam a fazer qualquer declaração e os que, a cada coisa que dizem, se enrolam ainda mais. É o medo a trapacear a verdade que acaba se manifestando nos atos falhos e nas meias verdades. Esperança de que, ao dizer meias verdades, se livre do que sobre os ombros lhe pesa. É o medo que faz apresentar novas versões a cada depoimento, que muda depoimentos e nega o que disse. Esperança de um habeas corpus que não se concretiza no STF.
A esperança anda meio anêmica. Parece que, se há luz no fim do túnel, o que se tem lá é uma vela e está ventando. A cada dia as novas notícias parecem ser dose de veneno para a esperança. Haja visto a troca do ministro da Justiça, na tentativa de aplacar as investidas da PF. Parece que a esperança tem sucumbido à maciça dose de medo, passada pelos prognósticos pessimistas dos economistas (os reis do chute), pelos desdobramentos da Lava Jato que a cada dia nos mostra que o câncer é maior. Parece uma cirurgia em que o médico abre a pessoa para ver o que tem lá dentro e descobre que o corpo todo foi tomado pelo câncer. Sobra alguém?
Mas se o medo é a mãe da criatividade e a esperança a mola propulsora para o amanhã, devemos ser criativos diante do medo e propor o amanhã da esperança. Não uma luta por causa dos R$ 0,30 na passagem do ônibus e nem pelo passe livre, mas pensar o amanhã, diferente dos ontens que tivemos. Este é o desafio da sociedade brasileira. Um amanhã cheio de justiça, com mecanismos reguladores que funcionam, com políticos que busquem o bem público e não a propina própria, que a diferença entre ricos e pobres seja diminuída, que a comida seja farta, que a mesa seja cheia, que se gaste mais com comida que com farmácia, etc.
No dizer de Isaías, o profeta: que as armas sejam transformadas em arados.
Marcos Inhauser


quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

É NO GOGÓ



A política se faz no parlamento, local onde se “parla” (se fala). Logo, o exercício da política está visceralmente relacionado ao uso da palavra, seja para os discursos, seja para as negociações. A fala política acontece no plenário, usando-se a tribuna ou o microfone aberto. Enquanto o orador fala, no mais das vezes, os que deveriam ouvir estão envolvidos em outro tipo de fala: ao pé do ouvido, aos sussurros.
Tem-se assim a fala política em duas dimensões: a pública e a privada. Na primeira, o orador, no mais das vezes, fala o que, entende, seus ouvintes querem ouvir, especialmente na fala em busca de votos ou na preservação dos obtidos, como garantia da reeleição. Não são raras as vezes em que esta fala é cínica, hipócrita, mentirosa, tergiversante. Tenho para mim que a política efetiva se faz nos corredores, nas salas fechadas, na conversa ao pé de ouvido, porque ali os filtros éticos são menores e, portanto, onde as maracutaias acontecem.
Mas há outra fala que vem me chamando a atenção: a de derrubar provas via gogó. Não sou perito em história política brasileira, mas acho que foi o Carlos Lacerda quem institucionalizou o discurso verborrágico para fazer prevalecer a sua verdade. Jânio Quadros fazia prevalecer a sua verdade no gogó e pressionado para explicar sua renúncia, sempre se saia com a explicação genérica de que foram as forças ocultas.
Mais recentemente temos outros exemplos de gente que quer fazer prevalecer a sua versão no gogó: Eduardo Cunha, Collor, Rui Falcão, Renan, Lula, e outros mais. No que pese as provas recolhidas nas investigações, ao invés de apresentarem o contraditório, elencando explicações específicas para cada item apontado, preferem usar o gogó para atacar as investigações, as instituições, o judiciário, os juízes e a polícia. Acham que suas falas destroem provas, extratos bancário, notas fiscais e outras evidências. Ao invés de se defenderem nos autos, preferem os alto-falantes!
As arengas são, em essência, as mesmas: motivação política, o grupo que lhe faz oposição montou esquema para incriminá-lo, é coisa requentada, dorme tranquilo, tem a consciência limpa, o que tem foi fruto do trabalho honesto, não pode se responsabilizar pelo que os assessores fizeram, não sabia, não viu, não conheço, nunca me reuni com ele, esta assinatura não é minha, forjaram provas, todas as contribuições foram declaradas, as contas foram aprovadas, apareceu um dinheiro na minha conta e não sei do que se trata, etc.
Ocorre que este tipo de comportamento se dá fora do círculo da política. Mesmo no campo religioso ele ocorre. Basta uma pesquisa na internet para ver a quantidade de vídeos de “pastores” usando o gogó para se dar bem ou para atacar quem os acusa de manipulação, apropriação de contribuições, manipulação dos membros, constrangimento moral, etc.
Por outro lado, há os que, bons de gogó, quando pilhados nas suas falcatruas, mesmo sendo oferecida a oportunidade de se explicar, preferem o mantra: “reservo-me no direito de permanecer calado” ou simplesmente ignoram como se nada fosse com eles. Bons de gogó, preferem o mutismo. Para estes a explicação de que o gogó é o pomo de Adão, explicação tergiversada de que se trata de pedaço da maçã que Adão comeu e que ficou entalada na garganta ocorre ao inverso: entalada, a voz não sai!
Entalada está na garganta a indignação popular com o gogó dos gerentes de falcatruas, dos pagadores de propina, dos pregadores de falsos milagres e prosperidade, dos hóspedes recorrentes nos palácios, dos comensais dos restaurantes da moda, pagos com o dinheiro do povo, seja via impostos ou ofertas de crentes.
Marcos Inhauser

quarta-feira, 22 de julho de 2015

POLÍTICA: A ARTE DO FINGIMENTO

Todo mundo sabe que a palavra hipocrisia significa fingimento, falsidade. Ocorre que a origem da palavra vem de outro contexto e sentido. Vem do grego hypocrites, que na Grécia antiga, designava os atores de teatro, os quais, durante as apresentações, fingiam ser outras pessoas. O palco era uma "hipocrisia" pois os que ali atuavam fingiam ser quem não eram.
Assim, o hipócrita oculta a realidade através de uma máscara, de uma aparência do que ele realmente é. O hipócrita finge possuir boas qualidades para ocultar seus defeitos, sendo também conhecido como pessoa dissimulada.
Nestes tempos de mensalão e Lava Jato, o cenário político se transformou em um grande palco teatral, com atores fingindo ser o que não são. Os mais variados discursos têm parecido, todos encenações de uma ópera bufa. Há uma constância nas falas dos atores: negam o que se lhes acusa com a veemência dos indignados. O conteúdo das falas pode mudar na argumentação. Uns alegam perseguição política (talvez a mais comum), outros dizem que as acusações são infundadas, levianas, irresponsáveis, feitas por criminosos confessos, etc.
A prática de negar é a primeira alternativa para os que são flagrados com a mão na botija. Outros preferem a perseguição política (tal como o fez Eduardo Cunha), sem, contudo, dar uma explicação sequer para esclarecer as coisas. Outros negam até a assinatura aposta em documento de banco, que comprova serem seus os milhões em depósitos em paraíso fiscal (Maluf). Outro se transforma no maior pecuarista do mundo em termos de fertilidade do rebanho (Renan Calheiros). Outro apela para tias e parentes mortos que teriam deixado herança milionária, sem que isto tivesse sido declarado à receita, um mero lapso cometido pelo contador.
Há quem, sendo confiscado de seu patrimônio (Lamborghini, Masserati e  BMW 760), apela para a o TCU investigar as contas da PGR, em clara retaliação. Aqui impera a lógica de que, se se flagra algo errado na PGR, as minhas falcatruas estão legalizadas, porque quem me acusa, tem também suas mazelas.
Há quem acuse o juiz de se achar o dono do Brasil, o Procurado da República de ser pau-mandado do PT, a PF de ser aparelho do Partido. Esquecem-se de dizer que há gente do partido nas investigações, que o ex-guru-mor do partido está sendo investigado por consultorias que nunca prestou, que o tesoureiro está enroscado até o pescoço e que a coisa anda sobrando pelos lados do Palácio, com dois ministros citados.
O grupo encarregado de explicar/justificar as “pedaladas fiscais” também está enveredando por este caminho, tentando mostrar que outros também o fazem e que a prática consagra a ética.
A crer-se nos discursos inflamados dos “indignados e perseguidos”, o Congresso Nacional seria um convento de monjas virgens, cuja santidade é comprovada pela face angelical que possuem. Conventos também seria as Assembleias Legislativas e as Câmaras de Vereadores. Pelo que se sabe, nenhum destes conventos é santo. Muitos se prostituíram nas lambanças e baladas das propinas.
De minha parte fica o orgulho de ver que ainda há algo que funciona neste país: a Justiça Federal no Paraná. Não que não haja outros exemplos, mas por agora, cito este. Ouvir a sentença dos primeiros donos de empreiteiras (fato que eu não cria ser possível há menos de um ano) e ver a prorrogação da prisão preventiva do diretor da maior empreiteira por prática reiterada de crimes, mesmo depois de deflagrada a operação e estar preso, é algo que me dá esperança de que algo está acontecendo.
Marcos Inhauser